A cantora Elza Soares gravou um DVD de memórias dois dias antes de morrer na quinta-feira, 20 de janeiro, de acordo com Pedro Loureiro, empresário e percussionista da artista há cinco anos.
Além disso, Elza também deixou dois documentários sobre sua vida e obra, além de um disco de músicas inéditas sobre a crise política brasileira. A partir de março, o material novo da cantora começa a ser lançado.
O primeiro lançamento será o DVD, que reúne os 16 maiores sucessos de Elza. As gravações ocorreram entre segunda e terça feira (17 e 18 de janeiro), no Theatro Municipal de São Paulo. As cenas captadas também farão parte de uma série documental do Globoplay, que será lançada em junho. Ainda há outro documentário sendo feito sobre a artista que não tem data de estreia, mas que está previsto para ser lançado no segundo semestre deste ano.
Já o novo disco está previsto para agosto. De acordo com o empresário da cantora, Elza queria lançar esse álbum antes da eleição presidencial e tal vontade será cumprida.
Elza Soares morreu aos 91 anos, no Rio de Janeiro. “É com muita tristeza e pesar que informamos o falecimento da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos, às 15 horas e 45 minutos em sua casa, no Rio de Janeiro, por causas naturais”, diz o comunicado enviado pela assessoria da cantora.
O corpo da cantora será sepultado no Jardim da Saudade Sulacap, na tarde de sexta-feira, 21 de janeiro, depois do velório no Theatro Municipal do Rio.
Vida
Elza Gomes da Conceição foi uma das maiores cantoras da música brasileira. Filha de uma lavadeira e de um operário, ela foi criada na favela de Água Santa, subúrbio de Engenho de Dentro. Ela se casou obrigada aos 12 anos, virou mãe aos 13 e viúva aos 21. Foi lavadeira e operária numa fábrica de sabão.
A cantora perdeu quatro filhos: dois recém-nascidos, quando a cantora ainda era adolescente. O seu único filho com Garrincha, Garrinchinha, morreu aos nove anos em um acidente de carro em 1986. Gilson faleceu aos 59 anos, em 2015, por complicações de uma infecção urinária.
Elza Soares faleceu no mesmo dia que Garrincha, que morreu no dia 20 de janeiro de 1983.
Carreira
Aos 20 anos, Elza fez seu primeiro teste como cantora, na academia do professor Joaquim Negli. Foi contratada para a Orquestra de Bailes Garan e seguiu no Teatro João Caetano. Ela começou a se destacar na música fazendo parte da cena “sambalanço” com “Se Acaso Você Chegasse”, em 1959.
Nos 34 discos lançados, ela já utilizou elementos do samba, do jazz, da música eletrônica, do hip hop, do funk e dizia que a mistura era proposital. O último disco lançado foi “Planeta Fome”, em 2019.
O disco “A mulher do fim do mundo”, de 2015, foi considerado, pela “Scream & Yell” o melhor disco brasileiro da década.
Muito ligada ao samba, lançamentos como “O samba é Elza Soares” (1961), “Sambossa” (1963), “Na roda do samba” (1964) e “Um show de Elza” (1965), eternizaram a voz da cantora.
Nos anos 1970, Elza escolheu cantar o samba de ritmo mais tradicional, com “Salve a Mocidade” (Luiz Reis, 1974), “Bom dia, Portela” (David Correa e Bebeto Di São João, 1974), “Pranto livre” (Dida e Everaldo da Viola, 1974) e “Malandro” (Jorge Aragão e Jotabê, 1976).
Repercussão internacional
Uma das artistas mais renomadas do mundo da música no mundo, a cantora pop Beyoncé, usou as redes sociais de sua organização, a BeyGOOD”, para homenagear Elza Soares. A instituição coordenada pela cantora americana foi criada para apoiar causas sociais ligadas à pobreza, educação, desemprego e desastres naturais.
Por meio do Instagram, ela escreveu: “Descanse em paz, Elza Soares. Sua música será eternizada e irá inspirar o Brasil e o mundo. Somos gratos!”.
A repercussão internacional do falecimento de Elza Soares não para por aí. Rasgando elogios para a cantora, a imprensa internacional lamentou a morte do ícone do samba e do MPB.
Descrevendo Elza Soares como uma cantora que pedia justiça às mulheres e lutava contra o racismo no país, a Reuters noticiou a morte da artista. A Aljazeera lembrou que ela cantou na Olimpíada do Rio, em 2016, e que o ex-presidente Lula prestou a solidariedade para a família dela.
Já o The Guardian escreveu: “Uma das melhores vozes brasileiras de todos os tempos”. A ABC News lembrou que ela foi eleita pela BBC como a “voz brasileira do milênio” em 1999. The Washington Post e Rolling Stone também divulgaram a morte da artista.