A Primaz de Minas completa nesta quinta-feira (16), 324 anos. A história de Mariana, que é conhecida pela literatura, religiosidade, projeção artística e busca pelo ouro, é marcada também pelo pioneirismo de uma região que há três séculos guarda riquezas que nos remetem ao tempo do Brasil Colônia. Além de ser a primeira cidade a ser projetada em Minas Gerais e ser sede do primeiro bispado, foi também pioneira na comunicação sediando a primeira agência de correios do estado. E, para enfatizar a sua importância, todos os anos, no dia 16 de julho, quando é celebrado o “Dia de Minas”, o Governo do Estado vai até o município para realizar a cerimônia alusiva na Praça Minas Gerais, que é um expressivo conjunto urbano do período colonial.
Lembrando também da riqueza de Mariana no campo da literatura, tendo nomes como Cláudio Manuel da Costa e Fernando Morais como grandes nomes do ramo em nível nacional. E ainda no campo cultural, a Primaz de Minas tem um campo arquitetônico rico com praças e matrizes do período colonial, como a Praça Minas Gerais, onde se encontra a antiga Casa da Câmara e Cadeia, a Igreja São Francisco de Assis e a Igreja Nossa Senhora do Carmo; ou mesmo a Praça Claudio Manuel: Mais conhecida como “Praça da Sé”, é a principal praça da cidade. Por abrigar a Catedral, é amplamente utilizada para eventos religiosos e artísticos. a Catedral da Sé, uma das maiores igrejas da cidade e a mais importante, já que, além de sua rica decoração interna, a catedral possui um precioso órgão, possivelmente construído por Johann Heinrich Hulenkampf em Lisboa em 1723 e transferido ao Brasil em 1753, como presente da Coroa de Portugal ao primeiro bispo de Mariana.
Para falar sobre mais algumas particularidades de Mariana, a primeira forma de poesia criada no Brasil também foi criada em Minas Gerais, mais específico na cidade. Se trata da ‘Aldravia’, um poema minimalista de seis versos, com cada um contendo uma palavra apenas. Esta métrica tipicamente brasileira foi feita por José Benedito Donadon, Gabriel Bicalho, e Andreia Donadon.
“poema
põe-se
poeira
cipó
teia
goteira”– Mário Donadon Leal
Outra coisa interessante sobre a literatura marianense é a Academia Marianense de Letras, presidida pela, também escritora Hebe Rôla. Lá é desenvolvido uma série de atividades artísticas com a população, além de conter um grande acervo de nomes e retratos dos grandes escritores que passaram pelas cidades de Mariana e Ouro Preto.
Por isso e muito mais, Mariana recebe turistas de todos os lugares do mundo, mas recentemente a cidade ficou marcada também por ter sofrido a maior tragédia ambiental do país. O rompimento da barragem, ocorrido em 5 de novembro de 2015, matou 19 pessoas e devastou a bacia do Rio Doce, que percorre até o estado do Espírito Santo. O interessante é que a própria literatura da cidade parece ter tido um presságio, quando Cláudio Manuel da Costa manifestava preocupação com a mineração e foi testemunha ocular dos seus efeitos, escrevendo a “Fabula do Ribeirão do Carmo”:
“Por mais desgraça minha,
Dos tesouros preciosos
Chegou notícia, que eu roubado tinha,
Aos homens ambiciosos;
E crendo em mim riquezas tão estranhas,
Me estão rasgando as míseras entranhas.
Polido o ferro duro
Na abrasadora chama
Sobre os meus ombros bate tão seguro,
Quem nem a dor, que clama,
Nem o estéril desvelo da porfia
Desengana a ambiciosa tirania (…)”
(COSTA: 1768; ALCIDES: 2019, p. 1404)
E, como até hoje o município sofre problemas com indenizações, o prefeito Duarte Junior (PPS) foi até a Inglaterra para um processo jurídico internacional contra a BHP Billiton, umas das controladoras da mineradora Samarco à época do rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, além da própria multinacional brasileira Vale. Mariana, juntamente com outras dezenas de municípios atingidos direta ou indiretamente pela lama, além de centenas de empresas, é parte interessada no processo, que busca, na Justiça britânica, indenizações e recursos oriundos da exploração mineral. Só de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), segundo o prefeito, o valor acumulado que não foi repassado a Mariana já se acumula em torno de R$ 200 milhões. O prefeito alega que o repasse foi suspenso por causa da iniciativa da prefeitura em participar da ação internacional. Ainda segundo o chefe do executivo municipal, a participação de Mariana desagradou, por exemplo, a Fundação Renova e outros órgãos, sem citar quais são. Esse é atualmente o maior processo do Reino Unido em número de vítimas e o segundo maior em relação a valores financeiros.
Mas, no fim, não é isso. A história recente pode fazer com que a memória visual de Mariana remeta à essa tragédia, um marco na triste na linha do tempo da cidade, mas até para isso tinha poesia, como foi mostrado acima. A maior atividade econômica da Primaz de Minas é a mineração, talvez por ter acompanhado o crescimento industrial de Brasil e o resto do mundo, entretanto, o legado do município precisa ser lembrado, seja no próprio país ou até na Inglaterra, por sua riqueza cultural, pelas belezas arquitetônicas e tudo o que esse lugar significa para um dos estado mais importantes do país que é Minas Gerais.