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Mulher, mãe e "trecheira": Paula Souza, caminhoneira, conta os desafios que enfrenta na profissão

19/02/2020 às 11:00
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Mãe de cinco filhos, Paula Stephane Souza, de 27 anos, a “mamãe trecheira”, é uma das muitas mulheres brasileiras que vem quebrando padrões no campo profissional. A caminhoneira especializada em Scania automática contou para a reportagem do portal Mais Minas detalhes e desafios em exercer sua profissão.
Hoje a jovem trabalha em uma mineradora, mas já dirigiu muito caminhão Brasil à fora: “Meus filhos são excelentes, amadureceram muito rápido, tive ajuda e também passei muitas dificuldades. Eles amam viajar, estávamos cada dia em uma cidade. Eles adoram conhecer culturas e pessoas diferentes“, nos conta Paula no começo da sua entrevista.
Mineira de Patrocínio, Paula aprendeu a lutar na vida muito nova. Abandonada pela mãe com apenas três dias de vida, a menina foi entregue ao pai, que a criou até os quatro anos, idade em que faleceu em um acidente de carro, deixando Paula órfã. Depois da perda do pai, Paula foi criada pela avó paterna, que chama de mãe até hoje.  “Meu psicológico ficou meio ruim, porque eu não tinha nem pai e nem mãe para me instruir com nada, minha avó sempre foi reservada e sistemática, com isso eu engravidei muito cedo, aos 14 anos“, revela a caminhoneira.
A “trecheira” também já dirigiu ônibus e caminhões mais antigos. Atualmente ela está na sua cidade mineira de origem e cumpre uma jornada de trabalho de 12 horas, no formato roda turno, ou seja, em uma semana trabalha à noite toda, na outra de dia, e assim por diante. “Hoje graças a Deus está tudo mais tranquilo, meus filhos se acostumaram com meu horário de trabalho e quando chego é só a gente se curtir muito, sempre dou o melhor de mim a eles”. Contudo, a jovem revela que as coisas não foram tão fáceis como parece: “Algumas vezes meus filhos se machucaram e eu estava na mina, dentro de um caminhão, meu coração quase saltou pra fora, mãe é mãe né?“.

Mulher caminhoneira.

Crédito da foto: arquivo pessoal


Além dos desafios enfrentados na vida pessoal e emocional, Paula sofreu preconceito quando começou a trabalhar dirigindo caminhão. Ela revelou ao MM que quando ela iniciou na profissão, trabalhou em uma empresa que tinha um quadro com mil funcionários, mas apenas duas eram do sexo feminino.

O preconceito foi muito grande. O jeito que alguns homens lidam com mulheres é muito grosso, eles faziam questão de mexer com a gente, sempre falavam que estávamos ali devido a ficarmos com algum chefe, ou feito o ‘teste do sofá’, sendo que todos havíamos realizado os mesmo testes para entrar nas empresas. Eles não admitiam quando mulheres passavam em algum teste e inventavam essas coisas.

Paula atualmente trabalha em uma empresa com mais de quatrocentos funcionários, onde 12 são motoristas, todas mulheres.
Nem o abandono, nem a maternidade conturbada e o preconceito impediram a jovem de caminhar. Vaidosa, a gata não deixa a sua autoestima cair. “Quando tenho uma folguinha sempre cuido de mim, maquiagem, cabelo, sobrancelhas, unha e cabelo, sempre está tudo em dia“. E ela faz questão de frisar: “não trabalho sem antes passar um protetor solar, também não saio de casa sem me olhar no espelho, e entre uma carregada e outra, tô sempre ali no vestiário da empresa passando um batom vermelho e penteando meu cabelo, porque minério você já viu né? Minha feminilidade sempre está em primeira mão, não abro mãe dela”.

Paula Souza, caminhoneira.

Crédito da foto: Arquivo pessoal


E se você achou que Paula vai parar por aí, se enganou! Embora ela esteja gostando na mineração, sua paixão mesmo é a estrada: “Pretendo ainda rodar muito trecho, quero comprar uma carreta, colocar meus filhos dentro e sair por aí”.
Paula ainda deixou um conselho para a mulherada de plantão, “Você mulher pode ser e fazer o que quiser, ame-se”.

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