2020 sem dúvida é um ano que ficará para a história. Apesar de ser um grande para alguns pessoalmente, a maior parte da população enxerga ao contrário, afinal estamos falando do ano que todos ficaram presos em casa por conta da COVID-19.
Mudando as rotinas diárias de pessoas das mais diferentes partes do globo, fomos obrigados a nos reinventar. No caso da educação, em especial, com professores lecionando de forma remota, exercícios via plataforma ou rede social e alunos buscando uma nova forma de aprender fora da escola.
Obviamente que esse não é o método ideal, na verdade muitos, como eu, questionam se essa é a melhor forma, em especial no quesito aprendizagem, será que temos de fato um processo de ensino aprendizagem ocorrendo ou temos apenas mais uma tentativa vã de lidar com a problemática da pandemia?
Em minha opinião, o presente ano apresenta como prioridade absoluta manter-se vivo, apenas. Parece bobagem à primeira vista, mas não é, pois mesmo com a baixa mortalidade do coronavírus, todos conhecem alguma família que teve perda ao longo do ano. Será que vale apena arriscar a própria vida dada a gravidade da situação?
Digo isso, pois enxergo alguns, inclusive autoridades, com o discurso de que devemos retornar ao normal, mas eu me pergunto: que normal? Porque achar que nada está ocorrendo beira a insanidade, temos mais de 150 mil mortos, isso é um cenário de guerra, será que pessoas tem noção do que estão falando?
E pior, chegam ao cúmulo de defender o retorno da aula presencial sob o argumento que os estudantes não aguentam mais ficar dentro de casa. Ora, é evidente que nós, seres humanos, sociais por natureza não gostamos de ficar isolados, mas não é só os estudantes, pais e professores também não querem mais essa distância, mas essa não é uma decisão individual, as escolas são pontos certos de contaminação de COVID-19, o argumento para o seu fechamento, desde o início, era esse, por que agora mudou? Não faz sentido!
Não temos vacinas, muitos trabalhadores da educação e crianças são do grupo de risco, vale a pena colocar toda essa gente em risco para cumprir o capricho dos tubarões de ensino? Quem conhece uma escola pública sabe como ela é, em geral, sucateada pelos diversos governos que passaram, esquecida por aqueles que deveriam cuidar do nosso bem maior. Dito isso, pergunto: existe possibilidade de se cumprir protocolos de segurança mínima nesses recintos? E como fazer com as salas de aulas lotadas? Vão ficar todos à deriva?
É um verdadeiro absurdo governantes dizerem que já temos condições de retorno, é um crime colocar professores e estudantes em risco simplesmente para cumprir um ato protocolar. Sem dúvidas que o ensino presencial é fundamental, mas como aprender com a própria vida em risco?
Os gestores municipais responsáveis precisam mostrar que tem bom senso e nesse momento que o governo mineiro tenta retornar com as aulas (paralisada graças a uma liminar judicial pedida pelo SindUte), precisam dizer não. É fundamental demonstrarem responsabilidade, como tem feito o prefeito de Belo Horizonte, peitando os interesses escusos e dando um basta nessa ideia sem nexo, colocando em alto e bom som que a sua cidade é contra o retorno das aulas presenciais!
Não podemos nos arriscar, um ano letivo é possível de se recuperar, mas as vidas perdidas nunca mais podem retornar.
Pense nisso.
Até a próxima.
* Pedro Luiz Teixeira de Camargo (Peixe) é Biólogo e Professor, Dr. em Ciências Naturais e Docente do IFMG.