Num breve resumo, o espiritismo é uma filosofia que, em partes, responde às questões fundamentais do ser humano: de onde viemos? Quem somos nós? Para onde estamos indo? Para a doutrina, Deus é o princípio de todas as coisas, é uma força de amor, criativa, infinita e eterna. A sobrevivência da alma é demonstrada pelos fenômenos psíquicos. Os médiuns são os intermediários pelos quais os espíritos podem se manifestar aos humanos. A vida após a morte é o ambiente natural da mente, é uma dimensão fora do material em que as almas humanas que viveram na Terra ou em outros mundos se encontram.
“Espelho da Vida” foi a quinta novela da autora Elizabeth Jhin como titular e a quarta que trouxe ao telespectador a temática espírita: vidas passadas, resgates cármicos e reencarnações. É uma característica da autora e ela já revelou em entrevistas que não descarta continuar abordando o assunto: “o tema me encantou tanto que decidi continuar com ele em minhas novelas seguintes”, disse a autora à época da novela “Escrito nas Estrelas” (2010).
Criada na Igreja Católica, Jhin passou a estudar a Cabala e a doutrina Espírita. O espiritismo é um tema amplo e complexo mesmo que a autora escreva dezenas de novelas sobre o assunto, ainda assim não abordaria todas as questões. Mas, acima de tudo, o espiritismo é questão de afinidade e sentimento: os que têm afinidade com os ensinamentos da doutrina sentirão uma maior proximidade com ela. O mesmo se dá com as demais religiões espiritualistas. Não é uma questão acreditar ou não nos seus sentimentos, mas uma questão de sentir aquilo que está sendo ensinado e se sentir tocado por aquilo.
A novela das seis não teve altos índices de audiência, o que justifica-se pela virada de ano, férias, carnaval e, para complementar tudo isso, o horário de verão. Acabou! Não há novela que sobreviva a isso. O próprio ator e autor Miguel Falabella relatou essas questões no programa “Os Donos da Histórias”, no canal por assinatura Viva, quando falou dos problemas enfrentados em sua única novela no horário das 18h, “Negócio da China” (2009).
Problemas à parte, “Espelho de Vida” pode não ter sido um sucesso de audiência, mas foi um sucesso de atuações. A sutileza da atriz Vitória Strada, a força de Alinne Moraes, as atuações impecáveis de Irene Ravache e Júlia Lemmertz, a doçura do maravilhoso Emiliano Queiroz e o crescimento espetacular do Felipe Camargo em cena são algumas das melhores atuações da novela.
“Cheio de Deus, não temo o que virá. Pois venha o que vier, nunca será maior do que a minha alma.”, foi com essa frase de Fernando Pessoa na voz de Reginaldo Faria que a novela se apresentou ao telespectador em 25 de setembro de 2018. Alain (João Vicente de Castro), premiado por melhor curta-metragem de ficção; Vicente (Reginaldo Faria) em estado terminal ansiando pela última visita do único neto, Alain; O amor de Alain por Cris (Vitória Strada); A insensibilidade de Isabel (Alinne Moraes) ao falar sobre a morte do pai para sua filha Priscila (Clara Galinari) e a sua já visível obsessão por Alain. O pesadelo recorrente de Cris e a sua chegada à Rosa Branca, que a faz ter a vaga lembrança de já ter vivido ali. A história inteira da novela apresentada no primeiro capítulo.
Meses depois, o desfecho da trama que foi ao ar nesta segunda-feira (01) emocionou o público que se manifestou nas redes sociais. Um dos mistérios mais intensos da trama foi revelado no antepenúltimo capítulo: quem matou Júlia Castelo (Vitória Strada)? Gustavo Bruno (João Vicente de Castro), Eugênio (Felipe Camargo), Dora (Alinne Moraes), Hildegard (Irene Ravache) figuraram a lista de suspeitos. A revelação surpreendeu o público: foi o coronel Eugênio. O próprio pai de Júlia puxou o gatilho da arma que tirou a vida da jovem. Na verdade, o tiro era para acertar Danilo (Rafael Cardoso), mas Júlia se jogou na frente de seu amado para protegê-lo.
Aplausos para Felipe Camargo! Que atuação, que entrega. Ele é a prova viva de que, quando fazemos algo com empenho, determinação e vontade, tudo tende a dar certo. O crescimento do ator em cena logo foi percebido pela direção da novela e pela autora que logo tratou de proporcionar ainda mais o crescimento de seu personagem, presenteando o telespectador com uma atuação magnífica.
Como segurar as lágrimas com as atuações de Emiliano Queiroz? No penúltimo capítulo, seu personagem, André, revelou ser o filho de Júlia Castelo e Danilo numa belíssima cena que culminou com a morte do personagem para que ele reencarnasse, agora como filho de Cris e Daniel (Rafael Cardoso). Emiliano é tão delicado em cena, mas ao mesmo tempo transmite uma intensidade incrível. Os atores que contracenaram com ele tiveram uma verdadeira aula e nós fomos presenteados. Salve, Emiliano!
Irene Ravache! A grande vilã da novela anterior de Elizabeth Jhin, “Além do Tempo” (2015), a Condessa Vitória, nos presenteou com dois personagens na novela das seis: a artista plástica Hidelgard, no passado, e Margot, dona de uma livraria, nos dias atuais. Irene é uma das melhores atrizes da TV Globo e uma das poucas que se entregam totalmente a cada novo trabalho. Dá gosto vê-la atuando! Parabéns, Irene!
Alinne Moraes é a força em mulher! É sempre bom vê-la interpretando mocinhas nas novelas, mas é melhor ainda vê-la dando vida às vilãs, pois é uma oportunidade em que ela pode mostrar ao público a sua força, devido as possibilidades que uma vilã oferece. Alinne brilhou e encantou. O seu olhar tem uma atuação à parte. Ele se movimenta de forma independente, tem atuação própria e isso complementa e engrandece o trabalho da atriz. Que mulher!
Vitória Strada tem uma carreira promissora. Sua primeira aparição na televisão foi em 2017 na série “Werner e os Mortos”, no canal Brasil. Ainda em 2017 ganhou sua primeira protagonista na novela “Tempo de Amar”, de Alcides Nogueira, também no horário das 18h00, uma aposta alta para um rosto desconhecido. Mas foi justamente o bom desempenho da atriz na trama que lhe rendeu o papel em “Espelho da Vida”, substituindo Isis Valverde que precisou sair do elenco por conta de sua gravidez. Mais uma vez Vitória deu um show de atuação e mostrou que veio para ficar.