[dropcap style=”square”]A[/dropcap] Mina Du Veloso, localizada no bairro São Cristóvão, em Ouro Preto, foi o único projeto representante de Minas Gerais na etapa nacional do 32ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade. O local é uma antiga galeria subterrânea de extração de ouro do século XVIII e XIX, que foi toda reformada e restaurada para poder fazer o trabalho de visitação turística pedagogicamente. A Mina, que reflete a riqueza dos bens culturais brasileiros recebeu a premiação de R$ 30 mil. Outros sete projetos culturais brasileiros foram premiados.
A comissão julgadora avaliou que a ação tem o mérito de enfocar o protagonismo das populações negras escravizadas com foco nos seus saberes e trabalho, além de apresentar compromisso com as comunidades afrodescendentes. O comitê estacou ainda o amplo alcance da ação, com público superior a 90 mil visitantes.
Ressalta-se que a ação é proposta de um coletivo, que apresenta uma nova versão da história, por meio da promoção de um Museu de Território. A Mina Du Veloso traz uma contribuição interessante para a história de Ouro Preto e apresenta uma nova narrativa, construída a partir da perspectiva dos trabalhadores da mina e dos coletivos negros locais. A Mina Du Veloso foi a ganhadora da Categoria 1 – Iniciativas de excelência no campo do Patrimônio Cultural Material, Segmento 4 – Pessoas Físicas individuais e representantes de grupos ou coletivos não constituídos em pessoa jurídica.
Conheça os vencedores de 2019
Rolê Carioca: Pelas Histórias do Rio, do Rio de Janeiro;
Milonga, repensando critérios de tombamento de terreiros, da Bahia;
Pinte seu Patrimônio, de Pernambuco;
Mina du Veloso, de Minas Gerais;
Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), de Pernambuco;
Feira de Trocas de Sementes e Mudas Tradicionais das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira, em São Paulo;
Inventário Participativo dos Engenhos de Farinha do Litoral Catarinense, em Santa Catarina;
Tecendo Memórias, Contos e Cantos – Registro das histórias de tradição oral dos imigrantes italianos, no Rio Grande do Sul.
Mina du Veloso
Eduardo Evangelista, proprietário da Mina du Veloso, comenta sobre a responsabilidade de trazer o patrimônio cultural do estado na premiação. “Minas Gerais é um dos lugares mais importantes do Brasil, no ponto de vista cultural. Durante a extração de ouro, poderia encaixar como um dos lugares mais importantes do mundo, em um certo momento. Por isso, para nós é uma grande honra, mostra que estamos no caminho certo. Isso é justiça, porque desde que Ouro Preto foi tombado, a parte arquitetônica e artística foi valorizada, enquanto a parte da mineração foi abandonada. Porém, as estruturas que foram tão bem feitas, que se mantiveram mais de 200 anos intactas e dando condições de fazermos dela um grande acervo arqueológico.”
Para o proprietário, a responsabilidade de ser o único projeto aprovado em Minas Gerais é muito grande, mas ele está preparado para assumir isso. “Estamos falando de uma etapa do Brasil que é fundamental para poder entender a história do país, que é o ciclo do ouro. Mostramos a importância do africano e da vinda desses povos pra cá. Devido ao racismo e a esse braço perverso do racismo que é o epistemicídio, essas histórias são escondidas e negadas. Por estarmos fazendo a resignificação dos nossos antepassados, essa responsabilidade nos faz muito satisfeitos”.
A ideia principal da Mina du Veloso é resignificar o papel do africano na formação da sociedade e mostrar o valor desse patrimônio para a formação da cultura e economia mineira.
Patrimônio Cultural Nacional
Segundo Eduardo Evangelista, o projeto da Mina iniciou-se em 2006 através de projetos de extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que faziam um levantamento sobre as estruturas da Mina. Já em 2009, Eduardo teve a oportunidade de comprar o terreno em que está localizada a Mina e abri-la para visitação turística, após restauração.
Em 2017, Eduardo pôde catalogar mais de 45 galerias subterrâneas e conjuntos estruturais que pertencem a área de mineração que ocorreu no bairro São Cristóvão, onde a Mina está localizada. O proprietário ressalta que “a Mina du Veloso era uma das mais produtivas da antiga Vila Rica, e possui um acervo fantástico de todas as estruturas de mineração utilizadas pelos africanos na extração de ouro em Vila Rica, atual Ouro Preto”.
Ele ainda aponta que um dos principais desafios é a falta de reconhecimento das autoridades locais e dos órgãos públicos quanto ao valor do patrimônio. “Eles são responsáveis pela proteção do patrimônio em Ouro Preto, mas não veem a história da mineração como um grande atrativo turístico para a cidade. Existem outras minas abertas a visitação, porém todas elas são de iniciativa particular, ou seja, os proprietários dos imóveis que fazem todo o trabalho de conservação. Não existe nenhum projeto ou incentivo do poder público, afirma.
Para Eduardo, a segurança da Mina é imprescindível para seu uso sustentável. “Para a Mina entrar em operação, fizemos todo o trabalho de iluminação, incluindo luz de emergência, segurança contra incêndio, alvarás dos bombeiros e laudo de um especialista em engenharia de minas”, disse.
O proprietário também ressalta a importância do local como fonte de pesquisa para os pesquisadores da UFOP. Segundo ele, há várias pesquisas da área das geociências em andamento, como trabalhos de conclusão de curso e pesquisas de pós graduação. “A Mina está sendo conservada com muito trabalho de pesquisa e conhecimento”, conclui.
32ª Edição do Prêmio Rodrigo: Patrimônio Cultural do Sul
Há mais de três décadas, o Prêmio Rodrigo valoriza e promove as ações de proteção aos bens culturais de todo o país. Para o diretor do Departamento de Cooperação e Fomento (Decof/Iphan), Marcelo Brito, a premiação dá visibilidade às ações produzidas no Brasil e fortalece as iniciativas empreendidas por diversos segmentos, tanto do poder público, empresarial e da sociedade civil brasileira. Ele destaca ainda “que o Prêmio representa um reconhecimento inestimável para todos aqueles que se dedicam a preservar e salvaguardar o Patrimônio Cultural Brasileiro”.
“Neste ano, tivemos muita dificuldade para escolher os projetos vencedores, pois todos são de excelência!”. A fala foi unânime entre os jurados ao anunciarem os ganhadores do Prêmio Rodrigo 2019. Os trabalhos foram selecionados pela Comissão Nacional de Avaliação, que esteve reunida nos dias 26, 27 e 28 de agosto, na sede Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em Brasília (DF).
A partir de 2016, a Cerimônia de Premiação passou a ser realizada em diferentes estados, visando estimular a participação comunitária na celebração das conquistas de parceiros que se dedicam à proteção, promoção e valorização do Patrimônio Cultural Brasileiro. Por isso, em consonância com a proposta do Iphan, a celebração da 32ª edição do Prêmio Rodrigo acontecerá em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.
Comissão Nacional de Avaliação
Presidida pela presidente do Iphan, Kátia Bogéa, a Comissão Nacional de Avaliação desempenha um papel de extrema relevância para a promoção dos bens culturais do Brasil. Responsável pela seleção dos trabalhos premiados, a comissão é formada por 20 profissionais, representantes de instituições públicas e da sociedade civil, experientes, qualificados e envolvidos em caráter permanente com a promoção e proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro.
Reportagem de Maic Costa, com colaboração de Kinderlly Brandão e Eduardo Evangelista.