Analisando “Tocando em Frente”, de  Almir Sater e Renato Teixeira

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É muito difícil encontrar um brasileiro que não tenha ouvido, sequer uma vez, a música “Tocando em Frente”, de Almir Sater e Renato Teixeira. Nela, a simplicidade do campo, poesia, musicalidade e muita sabedoria se misturam e entregam uma mensagem sublime. 

“Ando devagar, porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais”.

Analisando “Tocando em Frente”, de  Almir Sater e Renato Teixeira

A canção lançada no início da década de 90 ultrapassou gerações e chega em 2022, em um mundo carregando diversas chagas de uma pandemia que trouxe e traz tanto sofrimento, seguida de guerra, que dispõe o sentimento de insegurança para muitos. 

Quando começa a tocar, o hit 90’s transporta seus ouvintes quase que imediatamente para o campo, fazendo refletir sobre o que realmente vale a pena e o quanto somos pequenos diante da imensidão do universo: “Só levo a certeza de que muito pouco eu sei ou nada sei”.

Com uma melodia que acalanta o coração, cantada na suave voz e a viola singular de Almir Sater, a música traz a narrativa de que a vida não necessita ser grandiosa para ser válida, pelo contrário, todas as vidas têm importância e cada um pode viver à sua maneira, seja ela cheia de recursos ou com poucos, é significativo viver um dia depois do outro. Da mesma maneira que ensinou o mestre Jesus, quando disse: “Não andeis ansiosos por COISA alguma”. 

Parafraseando o que disse Cristo, os compositores trouxeram:

“Penso que cumprir a vida, seja simplesmente compreender a marcha, ir tocando em frente, como um velho boiadeiro, levando a boiada , eu vou tocando os dias, pela longa estrada, eu vou, estrada, eu sou”. 

E não pense que se trata de ser passivo com as injustiças deste mundo,é apenas blindar o seu interior e praticar inteligência emocional. Quem nunca sentiu vontade de sumir para o meio do mato,onde não se ouve ou vê ninguém, apenas deixando os dias passar, conhecendo o sabor “das massas e as maçãs”?

É como se os dias nas áreas rurais passassem mais devagar. A natureza se encarrega de ensinar o momento em que cada etapa será concluída, dentro do processo evolutivo de cada um de nós. Primeiro se prepara o terreno, para em seguida semear, é necessário regar (alimentar), cuidar, para que possamos ver algo brotar da terra. E o trabalho não termina por aí, quando nasce uma plantação ela precisa constantemente ser revisada, limpa, os ramos ou espinhos retirados, para que ela possa voltar a sua essência e se apresentar mais vistosa. 

Da mesma maneira é a nossa vida.

“É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir”. 

Exercer a paciência transforma o mundo, ser resiliente com nossas próprias questões e compreender que todos estão aqui para aprender uns com os outros reacende a energia da comunhão. É errando que se aprende. “Todo mundo ama um dia, todo mundo chora, um dia a gente chega, o outro vai embora”

Mas uma coisa é fato: ninguém pode viver uma vida no lugar da própria pessoa. O que se faz a partir da dor, pode definir o futuro. As escolhas estão aí, todos nascemos com intuição e um senso crítico e de justiça, do que é o correto é do que é o errado a se praticar. Usar as próprias cicatrizes para ferir os outros é também querer se isentar das próprias responsabilidades afetivas e sociais. Para tudo há consequências. Elas podem ser positivas ou negativas, depende do plantio. “Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom capaz, de ser feliz”. 

Essa é uma das interpretações para o sucesso do santista e do mato-grossense que juntos trouxeram pensamentos filosóficos muito profundos, de um Brasil que já havia experimentado a Tropicália, o rock nacional, a popularização de ritmos nordestinos e nortistas, como axé e o maracatu, mas que se rendeu ao sertanejo raiz, de viola caipira de Almir e Renato. 

Os compositores e parceiros de “Tocando em Frente”

A química musical entre Almir Sater e Renato Teixeira deu tão certo que em 2016 lançaram o álbum “Ar”, com composições de ambos. Pois é, a amizade não ficou apenas em “Tocando em Frente”, foi perpetuada por um álbum inteiro.

Renato Teixeira ficou conhecido depois de compor o hit “Romaria”. Com melodias e letras que tocam na alma, o artista tem 26 CD’s lançados. Entre eles, dois em parceria com o também sertanejo Sérgio Reis. 

Almir Sater – que gravou o seu primeiro Cd, “Estradeiro”, em 1981, além de músico – é colecionador de icônicos personagens, sempre em novelas que destacam e destacam a beleza e vida no campo, como “Pantanal”, “O Rei do Gado”, “Bicho do Mato” e outras. 

Curiosidades

Compor uma música como “Tocando em Frente” não é para amadores. O que poucos imaginam é que ela foi feita com poucos minutos. 

Almir Sater contou à saudosa Inezita Barroso, durante participação no programa “Viola Minha Viola”, transmitido pela TV Brasil, que na ocasião da composição da canção estava  faltando uma corda em sua viola, mas mesmo assim ele começou a dedilhar e logo surgiu uma bela harmonia, com melodia. 

Ele havia sido convidado para jantar na casa de Renato e a música foi composta um pouco antes da comida ser servida. Assim que a harmonia e melodia foram apresentadas, Renato começou a escrever os versos e bom! “Tocando em Frente” estava pronta. 

Ele chegou a comentar que acreditava que pela rapidez, em dois minutos, mais precisamente, parecia que a música tinha sido uma mensagem do além. “Então acho que essa foi mesmo psicografada”, disse Almir. 

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