Dezembro de 2021 e janeiro de 2022 apresentaram um montante de chuvas muito acima do esperado em Ouro Preto, a consequência disso foi uma série de transtornos para a população que culminou na queda de parte do Morro da Forca que levou embora o histórico casarão Baeta Neves e nas rachaduras que levaram parte dos moradores do Taquaral a terem suas casas embargadas por risco de deslizamento.
Bom, praticamente um ano se passou e as chuvas estão voltando novamente, mas a pergunta que fica é: o que foi feito desde então?
Parte da pista que leva o município a Mariana, por fora de Passagem, teve um trecho até o fim da última quinzena ainda semi interditado, só agora tiraram a terra que havia desbarrancado. Um ano para fazer um serviço que leva duas horas!
E como ficaram as casas dos bairros mais vulneráveis? As informações que chegam é que tudo segue como antes, prova disso é que devido à falta de políticas públicas de habitação, foi criada a Ocupação Novo Taquaral próximo a nova Santa Casa, em Saramenha.
É difícil compreender a lógica da Prefeitura de Ouro Preto, será que vão esperar acontecer tudo de novo para tomarem providências? Não precisa ser nenhum especialista para ver que o trecho do Morro da Forca que desceu, ainda vai descer mais, é fundamental uma obra de contenção antes que atinja mais casas, como o antigo casarão, que por sorte, estava vazio, já que há denúncias de servidores comissionados exigindo que ali se instalassem algumas das secretarias municipais.
É óbvio que há um problema geológico na cidade, com centenas de moradias em áreas de risco, mas a pergunta que não quer calar é: por que isso acontece? É simples, pois nas regiões que não tem perigo, moram os donos da cidade e quando surge uma oportunidade para resolver onde os mais humildes podem morar, aparece milagrosamente um novo empreendimento imobiliário, o mais novo desses, inclusive parece nem ter aval dos órgãos ambientais, algo surreal em uma cidade minimamente séria!
O que podemos concluir é que o drama das moradias em áreas de risco na cidade patrimônio mundial é algo pensado pelas elites ouro-pretanas para deixar os menos favorecidos bem longe do centro, onde podem se esbaldar vendo shows e tomando champanhe sob a bucólica paisagem da cidade, algo que, para estes cidadãos, não devem ser de todos, ou seja, a periferia deve se manter longe, cada vez mais longe da área central!
O curioso é que esse apartheid social que vemos por aqui precisa desta parcela da cidade que eles tanto rejeitam, afinal se alguém vai buscar o pão na padaria, é porque alguém acordou quatro horas da madrugada para prepará-lo, ou seja, os pobres são úteis para servir os ricos, mas para usufruir das belezas da cidade não, uma visão que remonta os tempos coloniais, mas que demonstra que esta prática ainda não foi totalmente rompida em Ouro Preto.
O desafio que temos pela frente é árduo, antes de mais nada torcer pra São Pedro não mandar tanta chuva quanto no fim do ano passado, afinal de contas, o poder público pouco fez, deixando a população mais vulnerável, literalmente, ao Deus dará (de novo).
Mas junto com isso, precisamos cobrar políticas sociais de habitação, começando pelo tão falado Plano Diretor, ponto de partida que a Prefeitura insiste em enrolar, desrespeitando abertamente o que prega o Estatuto das Cidades.
Até quando esperar? Precisamos de providências urgentes, quem está nas áreas de risco não aguenta mais tanta enrolação!