Cineop presta homenagem à atriz Maria Gladys e celebra o movimento tropicalista

Publicado: última atualização em

Em sua 13a edição, a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto realiza nesta quinta-feira, às 20h30, a cerimônia de abertura, no Cine Vila Rica, seguindo como o principal evento audiovisual brasileiro a tratar simultaneamente de Patrimônio, Educação e História. Com a presença de cineastas, pesquisadores, restauradores, professores, críticos, jornalistas, estudantes e espectadores dos mais variados perfis, a mostra segue na cidade histórica mineira até o dia 18 (segunda-feira), com vasta programação gratuita de filmes, seminário, exposição, shows musicais, lançamentos de livros e rodas de conversa. Será um ano especial para Ouro Preto que celebra, em 2018, 80 anos de tombamento como Patrimônio Mundial da Humanidade.

A abertura, na noite de quinta-feira, vai apresentar o tema geral da mostra este ano: Fronteiras do Patrimônio Audiovisual em Diálogo com a História, Educação e as Artes. Com criação e direção de Chico de Paula e Grazi Medrado e trilha ao vivo de Barulhista, a cerimônia irá apresentar as temáticas do evento e ainda prestar homenagem à atriz Maria Gladys, que receberá o Troféu Vila Rica em tributo à sua trajetória. Serão exibidos o curta-metragem Maria Gladys, uma Atriz Brasileira (Norma Bengell, 1980) – que, com apenas uma cópia 35mm em acervo, foi digitalizado em DCP pela organização do evento; e o longa Sem Essa, Aranha (Rogério Sganzerla, 1970), que traz a atriz num de seus papéis mais marcantes. Figura ícone do cinema brasileiro desde os anos 1970, Gladys vai participar do festival e relembrar sua prolífica carreira. Ao longo da programação, o público ainda assistirá à atriz na tela nas exibições de Vida, de Paula Gaitán (2008), e da pré-estreia de Quebranto, de José Sette. Ela também participa de uma roda de conversa na sexta-feira, ao meio-dia, no Centro de Convenções.

PUBLICIDADE

Até o dia 18, toda a programação da mostra é gratuita e vai ocupar o Cine Vila-Rica, a Praça Tiradentes (com o Cine Praça), o Centro de Artes e Convenções e o Sesc Cine Lounge Show. Nesta edição, serão exibidos 134 filmes (15 longas, 6 médias e 113 curtas-metragens), vindos de 12 estados brasileiros (BA, CE, ES, GO, MG, RJ, SP, PB, PE, PR, RS, SC) e 3 países (EUA, Espanha e França), distribuídos nas mostras Contemporânea, Preservação, Homenagem,  Histórica, Educação, Sessão Especial, Mostrinha e Cine-Escola. No seminário, acontecem o Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros e o Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino.

O eixo central da Temática Histórica será a “Vanguarda tropical: Cinema e Outras Artes”, com curadoria de Francis Vogner dos Reis e Lila Foster.A programação vai apresentar e discutir um rico movimento da cultura cinematográfica brasileira, que se desenvolveu em um momento obscuro da vida política e social do país – o regime militar e a implantação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) em 1968. No contexto da época, entre os anos 1960 e 1980, músicos, artistas plásticos e escritores se aventuraram na criação de imagens e sons de maneiras singulares e completamente fora dos padrões e do mercado audiovisual. Sem compromissos comerciais e com o sentimento maior de extrapolação expressiva, nomes como Jorge Mautner, Hélio Oiticica, Sérgio Ricardo, Torquato Neto e tantos mais pegaram em câmeras e fizeram filmes até hoje únicos e surpreendentes.

Integram os filmes da Mostra Histórica da 13ª CineOP alguns dos mais representativos nomes da contracultura local, que transitaram a partir de suas áreas de maior atuação (artes plásticas, fotografia, música e teatro) rumo ao cinema como propulsor de questões políticas e estéticas. Vários dos filmes vêm de arquivos pessoais, tendo raras exibições públicas desde suas produções. Entre eles, estão A Fila (Katia Maciel), À Meia-noite com Glauber (Ivan Cardoso), Alma no Olho (Zózimo Bulbul), Light Works (Iole de Freitas),X(Ana Maria Maiolino), Terror da Vermelha (Torquato Neto) e O Demiurgo (Jorge Mautner). A vanguarda tropical ainda se faz presente no Seminário, na mesa “Fronteiras do Experimental: História, cinema e outras artes”. O encontro terá a presença de Guiomar Ramos (professora e pesquisadora), Tiago Mata Machado (cineasta), Kátia Maciel (artista e pesquisadora), sob mediação de Francis Vogner.

Mostra Contemporânea vai dialogar diretamente com a Temática Histórica, ao exibir curtas, médias e longas-metragens recentes que, na sua maioria, assumem filiação ao experimentalismo e ao diálogo entre as artes. Entre os filmes, estão A Poeira não Quer Sair do Esqueleto, de Daniel Santiso e Max William Morais; Andále!, de Petter Baiestorf;Landscape, de Luiz Rosemberg Filho; sem título #4: apesar dos pesares, na chuva há de cantares, de Carlos Adriano; e a pré-estreia O Desmonte do Monte, de Sinai Sganzerla. Mesmo nos filmes de viés mais popular, como Fevereiros, de Marcio Debellian – também em pré-estreia – o diálogo com a contracultura permanece, ao tratar de Maria Bethânia, figura central do tropicalismo.

Na Temática Educação, a escola pública estará no centro das atenções, a partir do eixo “Memória do Futuro” e da defesa da importância da escola como algo que conserva, cuida e produz memória a cada segundo. A curadoria é de Adriana Fresquet, com assistência de Geraldo Pereira. Uma série de “cases” e programas bem-sucedidos de utilização do cinema como instrumento de ensino e aprendizado – especialmente na construção de uma grande memória audiovisual e de valorização cultural – serão apresentados no decorrer da programação.

Um dos destaques é a mesa “Cinema e Educação: A Escola no Cinema”, reunindo representantes do Programa Cineduca, iniciativa do Uruguai que será destacada pelas convidadas internacionais Cecilia Etcheverry e Cecilia Cirillo, respectivamente coordenadora pedagógica e coordenadora técnica do projeto. Outra presença estrangeira muito aguardada é a do professor espanhol Jorge Larossa, autor de contundentes reflexões sobre a escola enquanto espaço de afetos, ele participará da mesa “Um Plano, Uma Aula”, ao lado do cineasta Cristiano Burlan, para uma reflexão do plano no âmbito do cinema e da escola. Larrosa também irá ministrar o workshop “Revelação na Escola”, apontando como o cinema e a arte são objetos transformadores numa escola. Além disso, 15 projetos inscritos foram selecionados, representando sete estados brasileiros (Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo). Os projetos estarão em três sessões do Encontro da Educação: X Fórum da Rede Kino. Uma novidade em 2018 é que os filmes selecionados que integram a Mostra Educação incluem agora trabalhos audiovisuais de estudantes, professores e cineastas, ampliando a relação dos participantes com uma cadeia de produção que se inicia nos estímulos da sala de aula. Ao todo, 69 curtas e dois médias e um longa foram selecionados para compor a Mostra.

Na Temática Preservação, o eixo estará nas “Fronteiras do Patrimônio Audiovisual”. Os intercâmbios entre a indústria, mercado e arquivos, a formação, o uso das tecnologias, o conteúdo, fomento e regulação são a base de conversas que propõem ampliar o diálogo internacional do Brasil com instituições de guarda e manutenção de acervos. Uma das presenças deste ano é o multiartista norte-americano Bill Morrison, que vai exibir o longa-metragem Dawson City – Tempo Congelado (2016) e fazer uma masterclass sobre sua experiência como cineasta, pesquisador e preservador.

Outros convidados estrangeiros da Temática Preservação são os norte-americanos Howard Besser, professor de Estudos Cinematográficos e diretor fundador do Moving Image Archiving & Preservation Program (MIAP) da Universidade de Nova York e Juana Suárez, integrante do APEX (Archival Exchange Program); e a francesa Céline Ruivo, coordenadora da Comissão Técnica da Fédération Internationale des Archives du Film (FIAF) e curadora na Cinemateca Francesa, que participará da apresentação da cópia restaurada de O Atalante, clássico de 1934 dirigido por Jean Vigo.

Do Brasil, o “case” de restauração em 2018 é a obra do capixaba Orlando Bomfim, netto, primeiro cineasta a registrar sistematicamente o cotidiano cultural do Espírito Santo, a partir da década de 1970, em documentários que se tornaram peças importantes do patrimônio histórico e da cinematografia do estado. Os cinco filmes em curta-metragem que serão apresentados foram digitalizados a partir de matrizes em 35mm e 16mm depositadas no Arquivo Nacional e também em posse do cineasta.

Na programação artística do Sesc Cine Lounge Show, no Centro de Convenções, a 13a CineOP amplia o diálogo com a Temática Histórica numa seleção de apresentações musicais de forte caráter tropicalista. Parceiro cultural da mostra, o Sesc em Minas foi responsável pelas atrações artísticas e elegeu como recorte o papel histórico do tropicalismo no processo de construção de uma “identidade nacional”. A programação é inteiramente gratuita, com retirada de senhas no local diariamente a partir das 22h.

A agenda de shows tem início na noite de 14 de junho (quinta-feira), às 22h, com o músico Barulhista e, em seguida, o cantor Marcelo Veronez e seu espetáculo “Narciso deu um grito”, com referências ao carnaval, ao teatro de revista e à diversidade de ritmos musicais brasileiros. A noite tem mais duas participações de peso: o grupo mineiro Cabezas Flutuantes que convida a cantora pernambucana Karina Buhr, para uma apresentação conjunta que vai esquentar a noite de Ouro Preto.

O sábado será especial, com a apresentação de Tom Zé, um dos ícones do tropicalismo brasileiro. Mais cedo, no mesmo dia, às 16h, o cantor participa de uma Roda de Conversa, num descontraído bate-papo com o público sobre sua trajetória.

Toda a programação é oferecida gratuitamente ao público.

Texto de ETC Comunicação
Leia também: Confira a programação completa da 13ª Edição da CineOP

COMENTÁRIOS

Este site utiliza cookies para melhorar sua experiência. Presumiremos que você concorda com isso, mas você pode cancelar se desejar. aceitar LER MAIS