Clássico: você sabe como surgiu a rivalidade entre Atlético e Cruzeiro?

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Desde o mais privilegiado até o mais explorado, o futebol aborda a vida de uma multidão. A rivalidade entre Atlético e Cruzeiro movimenta cerca dois milhões de torcedores em Belo Horizonte, numa cidade com uma população de pouco mais de dois milhões e meio de pessoas. E ainda, agrupando toda a torcida no estado e fora dele, quase 15 milhões de pessoas estão envolvidas na paixão pelos dois times.
Na história do clássico, existem duas contabilidades, a de registro atleticano e a cruzeirense. Segundo os dados do Atlético, são 511 partidas, com 205 vitórias para o Galo, 170 para a Raposa e 136 empates. Já os dados do Cruzeiro contam 493 jogos, sendo 193 vitórias atleticanas, 169 para o time celeste e 131 empates. O clássico teve seu maior público no ano de 1969, quando 123.351 pessoas foram ao Mineirão assistir a vitória da equipe estrelada por 1 a 0.
Muitos ídolos do futebol nacional disputaram e deixaram sua marca no confronto, como Tostão, Paulo Isidoro, Sorín, Taffarel, Dirceu Lopes, Alex, Éder Aleixo, Ronaldo (o “Fenômeno”) e Ronaldinho (o “Gaúcho”). E ainda, grandes nomes que jogaram nas duas equipes, como Luizinho, Reinaldo, Nelinho, Procópio, Palhinha, Cerezo, Guilherme, Cláudio Caçapa e etc.

Crédito da fotos: Bruno Santos e Bruno Cantini/Atlético

Mas você sabe como surgiu toda essa rivalidade?

Histórico

O Atlético foi fundado em 1908, em Belo Horizonte, e através dos anos encontrou uma rivalidade com outro clube tradicional da cidade, o América. Isso porque o time verde e branco, fundado em 1912, emplacou uma sequência incrível de dez títulos estaduais seguidos, criando uma hegemonia no período entre 1916 e 1925. Com a disputa pelo pódio mineiro, o alvinegro e alviverde marcaram uma época e que gerou um nome para o confronto, o qual é usado até hoje: o “Clássico das Multidões”.
Entretanto, em 1921 surgiu um time, em BH, fundado por desportistas da colônia italiana mineira, com o nome de “Societá Sportiva Palestra Itália”. Esse curioso time que acabara de ser criado conquistou seu espaço vencendo três Campeonatos Mineiros entre 1928 e 1930. O crescimento do clube que ainda vestia as cores verde, vermelho e branco trouxe a motivação para, junto com as outras grandes forças do futebol no estado, organizar a primeira liga profissional do estado: a Associação Mineira de Esportes. Posteriormente, em 1942, o Palestra Itália se tornaria o Cruzeiro Esporte Clube, como conhecemos hoje.
Mas voltando um pouco mais no tempo, o primeiro confronto entre Atlético e Cruzeiro foi acontecer em 17 de abril de 1921, no estádio Prado Mineiro. Na ocasião, a partida foi parte de um festival promovido pela Associação Mineira dos Chronistas Desportivos (A.M.C.D.) e valia ao vencedor uma medalha de ouro. Quase duas mil pessoas acompanharam o primeiro jogo entre as duas equipes, mas, na verdade, grande parte do público estava ali pela partida principal, que era Lusitano contra América.
Na primeira vez que as duas equipes, Atlético e Palestra, se enfrentaram, o time descendente de italianos venceu por 3 a 0. O fato curioso dessa partida é que o ex-presidente atleticano, Aleixanor Alves Pereira, apitou o jogo. No caso, o árbitro era ninguém mais, ninguém menos que um dos fundadores do clube alvinegro. Mas apesar disso, teve sua atuação elogiada pela imprensa: “o juiz agiu com perfeita imparcialidade, a não ser um ou outro deslize muito perdoáveis”, publicou o Diário de Minas. Antes, quem iria assumir o apito era João Britto, mas a mudança aconteceu de última hora, não sendo divulgado o motivo da troca.

Na história do clássico, foram 507 partidas, com 204 vitórias para o Atlético, e 168 para o Cruzeiro, e 135 empates. Teve seu maior público no ano de 1969, em que 123.351 pessoas foram ao Mineirão assistir a vitória da equipe celeste por 1 a 0.

Crédito da foto: reprodução/Biblioteca Pública Estadual Luiz de Blessa

Rivalidade

A partir dos estudos históricos do Centro Atleticano de Memórias e do estudo feito na produção do livro “De Palestra a Cruzeiro”, de Luiz Otávio Trópia Barreto, a rivalidade foi surgindo a partir do declínio do América, que não ganhava mais tantos títulos mineiros, junto ao decorrer do crescimento do Cruzeiro. Nos anos 1950, o antigo Palestra Itália começou a agregar mais torcedores a medida que a capital do estado crescia, além de ganhar espaço no campeonato estadual, vencendo três campeonatos seguidos (1943, 1944, 1945). Além disso, estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, foi fundado, retirando um pouco a atenção do estádio Independência.
Outro fato curioso que reforçou essa rivalidade foi o Campeonato Mineiro de 1956. No regulamento, os campeões do primeiro e segundo turno se enfrentariam para decidir o título em um confronto melhor de três. O Atlético venceu a primeira partida e empatou a segunda, mas seu lateral esquerdo Laércio, que substituiu Haroldo, machucado no segundo jogo, não havia apresentado dispensa ou prestação do serviço militar, tendo sido inscrito na competição apenas com um exame médico. Sendo assim, o Cruzeiro foi até o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) e requisitou os pontos da partida empatada. Entretanto, o setor jurídico do esporte mineiro não aceitou, alegando que era responsabilidade da Federação Mineira de Futebol (FMF), não do clube.
No terceiro jogo, o Atlético venceu mais uma vez, porém o Cruzeiro recorreu ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). No julgamento, foram dado os pontos do empate para o time azul, além de ser definida perda de pontos equipe alvinegra, empatando a melhor de três. Portanto, o STJD obrigou a Federação Mineira a marcar mais uma partida decisiva. Entretanto, dessa vez o time alvinegro recorreu a decisão, tendo seu pedido negado. Daí, então, o time alvinegro foi até a Conselho Nacional Desportivo (CND) e garantiu uma liminar para não disputar o jogo. Tudo só foi terminar quando a CBD ameaçou proibir os clubes de disputarem o Campeonato Brasileiro de 1959. Sendo assim, por decisão da FMF, as duas equipes foram declaradas campeãs do Campeonato Mineiro de 1956, e de quebra, ferrenhos rivais.
Atlético e Cruzeiro construíram uma história de rivalidade tensa, folclórica e muito bonita. E esse livro ainda vai render muitos e muitos capítulos.

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