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É possível ser feliz?

Essa é uma pergunta que me faço muitas vezes, mas não sei a resposta. Sei que é possível estar satisfeito, estar agradecido, estar esperançoso, estar apaixonado, estar alegre, mas ser feliz, não sei.
30/12/2022 às 09:20
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6 min
Imagem ilustrativa do Canva
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“-Veja, eu me considero realista, mas em termos filosóficos eu sou o que chamam de pessimista.

– Certo e o que isso significa?

-Significa que não me dou bem em festas.”

Dialogo da série True Detective

Natal e véspera de fim de ano sempre surge o tal do “dar graças por tudo de bom que aconteceu” e eventualmente, com o surgimento do Instagram, uma inundação de fotos de pessoas sorrindo e comemorando por mais um ano cheio de amor e felicidade.

Na outra polaridade disso, muitas pessoas se sentem mal, já que não veem nada pelo que agradecer, outras nem se sentem mal, não sentem nada, o que para muitos é ainda pior. Muitas dessas não chegam ao ano novo, infelizmente.

A grande questão é: É possível ser feliz?

Essa é uma pergunta que me faço muitas vezes, mas não sei a resposta. Sei que é possível estar satisfeito, estar agradecido, estar esperançoso, estar apaixonado, estar alegre, mas ser feliz, não sei.

Em 1990 entrei para o pré-escolar, desde então sempre estive estudando, seja escola ou curso profissionalizante, graduação, curso livre e o escambau. Em nenhuma vez tive uma matéria que ensinasse como ser feliz.

Há alguns anos lançaram O Jeito Harvard de ser feliz e embora muito cultuado por intelectuais, ou assim se consideram, o que obviamente não sou e nem me considero, o livro não me parece diferente da máxima do copo meio cheio ou meio vazio.

Entendo, racionalmente, o conceito de que ter uma atitude mais otimista, faz com que tenhamos motivação pra continuar evoluindo e não desanimar com os desafios.

Entendo também que se todo mundo fosse otimista, ainda estaríamos esfregando gravetos dentro de cavernas dando graças por termos um lugar quentinho pra morar.

Sei que o livro não faz alusão a ver o mundo cor de rosa, mas usar lentes rosa, como mesmo diz em uma passagem. Não é sobre fingir que está tudo bem, mas tentar não se deixar levar pelos problemas e desistir. Essa é uma mensagem importante e melhor do que minha opinião é você ler o livro e decidir por si mesmo a qualidade do texto.

Em outros lugares da história, há três linhas de pensamento que acho interessantes avaliar em nossas vidas, quando pensamos sobre felicidade e sucesso.

No estoicismo, que teve sua origem no cinismo, não o cinismo contemporâneo, igual o da sua vizinha fofoqueira, mas o cinismo original, raiz, que fala do desapego, fala-se de viver de forma tranquila, não se deixando levar por medos e desejos, não se preocupando com o que não se pode mudar.

Esse é um pensamento interessante, mas difícil de ser aplicado, no entanto, se puder ser um pouco implementado em sua vida, já ajuda. Se você aprender a não se abalar por coisas que não tem poder de transformar, lhe sobra mais tempo e energia pra investir em si mesmo. Não que vá ser feliz assim, mas sofrerá menos, o que já é bom.

Friedrich Nietzsche, o homem que sempre preciso conferir no google se digitei o nome corretamente, acreditava que nada que valha a pena na vida pode ser conquistado sem dor ou sofrimento. Era preciso se esforçar, passar por dificuldades pra se conseguir êxito.

Para Nietzsche, as conquistas são como flores, lindas e majestosas, mas que só são possíveis por causa de raízes sujas e feias que ninguém, além de quem cultivou as flores, conhece.

As pessoas não mostram suas raízes bagunçadas e quebradiças, elas as escondem em vasos ornamentais ou em canteiros bem cuidados, assim, nós, que apenas vemos as flores, achamos que fracassamos quando parece que nossa primavera nunca chega.

Para Jung, qualquer pessoa que queira crescer e ser como uma árvore a qual os galhos toquem o céu, precisa estar disposto a permitir que suas raízes cheguem ao inferno.

Isso significa que você precisa estar ciente de quem é, consciente, no caso, de tudo de bom e ruim que carrega em si para poder crescer e alcançar aquilo que almeja.

Isso me faz lembrar da vez que me relacionei com uma pessoa que me disse “você é muito cérebro e pouco coração”, mas isso não é quem sou, é o que mostro para o mundo, porque por muitos anos fui “Pouco cérebro e muito coração” e isso nunca trouxe nada de bom.

É possível então que viver constantemente com essa sensação de que a felicidade é uma loja chique no shopping da qual o mais perto que vou chegar é olhar as pessoas lá dentro pela vitrine não seja, de fato, bom, mas me mantém olhando para os dois lados da rua antes de atravessar.

Estar ciente do que a dor me causou me permite decidir o quanto estou disposto a me permitir expor novamente. É disso que se trata a psicanálise e a psicoterapia analítica, não te fazer sentir feliz, que é algo subjetivo e talvez, para muitos impossível, mas te fazer forte e auto consciente para saber enfrentar as dores e estar preparado para fazer o que você almejar no mundo.

Atualmente a felicidade é vendida como uma fórmula pronta para o sucesso, para o dinheiro, para o controle dopaminérgico, mas carvalhos e orquídeas têm raízes muito diferentes e portanto não se cultivam ou crescem da mesma forma. Ambos têm seu valor, mas cada um vai ocupar um lugar e levar um tempo pra atingir seu auge.

Então, respondendo a pergunta do texto, é possível ser feliz?

Acredito que não, mas é possível estar feliz, acredito que já estive, que às vezes estou e que ainda outras vezes estarei, mas não acredito que exista uma fórmula pra isso e que, para mim, ainda vale a pena ser mais cérebro e menos coração, mas que no seu caso, é você que tem de saber o que te faz melhor.

PS. Algumas pessoas estão dentro daquela loja do shopping nos encarando pela vitrine e imaginando que a felicidade está aqui fora. No fim, talvez o Barão Vermelho é que esteja certo e a felicidade seja um estado imaginário.