Com o título ainda recém conquistado de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela UNESCO, Belo Horizonte traz um ícone da Festa Momesca da histórica Ouro Preto, o Bloco Zé Pereira Clube dos Lacaios, para desfilar, na segunda-feira (27), às 10h, com seus imponentes e irreverentes bonecões. A concentração será na Casa do Baile, um dos principais atrativos turísticos da Conjunto Moderno da Pampulha.
E não será um desfile qualquer. A agremiação folclórica Zé Pereira completa 150 anos de atividades em Ouro Preto (170 anos se contar seu início no Rio de Janeiro) e faz questão de comemorar seu aniversário também na capital mineira. “Escolhemos Belo Horizonte pela visibilidade que o Carnaval da capital tem, o que é muito bom para nossa agremiação. A capital tem reunido, nos últimos carnavais, pessoas de várias partes do país e oferece uma ótima infraestrutura. É um prazer poder colocar nosso bloco na avenida”, destaca o presidente da agremiação Arthur Ramos Carneiro.
Considerado o bloco mais antigo do Brasil em atividade, a agremiação folclórica Zé Pereira Clube dos Lacaios traz, em seus 150 anos de existência, o resgate de sua originalidade. De acordo com Arthur Ramos, foi feito um estudo amplo e, por meio de fotografias, as roupas dos três bonecos originais foram resgatadas.
As novidades não param por aí. Depois de 20 anos sem nenhum tipo de intervenção, os bonecos Catitão, Baiana e Benedito, tiveram suas madeiras restauradas e vão ganhar indumentária nova. “É uma grande responsabilidade, uma vez que o Zé Pereira tem toda uma história que deve ser muito bem preservada. Imagina, eu com 20 anos de idade à frente do bloco com 150 anos”, comenta o presidente.
Detalhes curiosos:
Entre as curiosidades pouco divulgadas do Zé Pereira está o fato do Catitão, o mais pesado entre os três bonecos mais antigos (são 40 quilos distribuídos por dois metros de altura) ter seus dentões feitos com dentes de cavalo e o famoso bigode confeccionado com o rabo deste mesmo animal.
Outra curiosidade é a dúvida que paira sobre o que representa o menor dos três personagens, o Benedito. Segundo Arthur, há quem diga que ele é o filho do casal e outros que ele é o lacaio.
Os outros 11 bonecos, com personagens pitorescos de Ouro Preto, como por exemplo Dona Olímpia, além de outros fundamentais na história de Minas Gerais, como o Tiradentes, foram confeccionados em isopor, no ano de 2001, após realização de uma oficina na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). E todos virão ‘cair’ na folia em BH.
Folião mais antigo
Nos 150 anos do Zé Pereira, o aposentado Roque Nolasco, 78 anos, comemora 64 anos de participação ativa no bloco. Ele conta que começou a desfilar com 14 anos juntamente com sua mãe. A vida inteira “encarnou” o personagem Cariá (pequeno diabo). Este ano, em função de um problema na coluna, vai deixar a tradicional fantasia para carregar um estandarte. “Se eu for convidado é claro que faço questão de desfilar em Belo Horizonte. É um privilégio para o Zé Pereira desfilar na capital no ano em que completa 150 anos e eu não quero perder este momento”, comenta Sr. Roque.
Um pouco da origem do Zé Pereira
De acordo com Arthur Ramos, Zé Pereira é uma tradição portuguesa, existente em algumas aldeias, e chegou ao Brasil com os imigrantes estabelecidos no Rio de Janeiro (RJ), no século XIX. “É mais uma agremiação folclórica do que um bloco”, comenta.
A história começou com o português José Nogueira Paredes, que aportou no Rio de Janeiro em 1846 já participando de um bloco carnavalesco. Segundo Arthur ninguém sabe ao certo a profissão dele se era sapateiro ou comerciante. Mas, em 1876, ele mudou-se para Ouro Preto para trabalhar no Palácio dos Governadores . Ali a folia foi perpetuada nas ladeiras da cidade.
Pesquisas apontam que no início da década de 1980, as manifestações com maior expressividade em Ouro Preto eram as escolas de samba e o bloco “Zé Pereira dos Lacaios”, retratado pela imprensa como a mais antiga agremiação carnavalesca do país.
No desfile, a turma sai de cartola, fraque e calça pretos, camisa branca social e gravata borboleta. A tradição começar cedo e mesmo com o bloco Zé Pereira infantil, alguns pais levam as crianças também para desfilar junto com os adultos.
UNESCO
No dia 17 de julho do ano passado (2016) o Conjunto Moderno da Pampulha, de Belo Horizonte (MG), entrou para a Lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. O local passou a ser o vigésimo bem brasileiro a fazer parte da lista, sendo Minas Gerais o estado do país com mais sítios inscritos.
O Conjunto Moderno da Pampulha une-se assim à Cidade Histórica de Ouro Preto, ao Centro Histórico da Cidade de Diamantina e ao Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, localizado em Congonhas.
Segundo a UNESCO, o conjunto da Pampulha tem importante significado para as gerações presentes e futuras da humanidade, pois representa um marco da história da arquitetura mundial e da história brasileira e das Américas.
É composto por quatro edifícios, pelo espelho d’água do lago urbano artificial e pela orla trabalhada com paisagismo. O lago e a orla funcionam como elementos articuladores dos edifícios e reforçam as relações que eles estabelecem entre si.
Já o título de Ouro Preto foi concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), na quarta sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, realizada em Paris, em 1980. A antiga Vila Rica, é considerada uma das maiores riquezas do estado de Minas Gerais.
SERVIÇO
- Bloco do Zé Pereira no Carnaval de BH
- 27/2, segunda-feira
- Concentração: 10h, na Casa do Baile (Otacílio Negrão de Lima, 751)
Postagem: Reprodução da SETIC.