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O que é capacitismo?

Muitas pessoas nascem diferentes, muitas se tornam diferentes e outras tantas podem gerar um filho diferente. Por estes e tantos outros motivos, essa é uma pauta que envolve a todos, sem exceção.
23/03/2022 às 16:08
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9 min
Pessoa com deficiência física trabalhando. Foto: Canva
Pessoa com deficiência física trabalhando. Foto: Canva

Você sabia que 24% da população brasileira tem alguma deficiência? Um percentual alto para ser colocado do lado fora do padrão da “normalidade”, não? O mais triste é saber que 45 milhões de pessoas sofrem capacitismo todos os dias no nosso país.

É comum que com o crescente no número de usuários das redes sociais, não apenas no Brasil, como no mundo, assuntos antes tidos como tabus venham à tona, sendo colocados em evidência.

Depois da luta contra o racismo, homofobia, machismo, pautas que precisam constantemente serem revisitadas, chegou a vez, ou passou da hora, de dar voz para milhões de pessoas que compões uma boa parcela da sociedade, os portadores de deficiência.

Para começo de assunto, a categorização dessas pessoas já recebeu uma nomenclatura errada, de acordo com o dicionário, deficiente significa falho, algo ou alguém que precisa de conserto. Imaginemos o que é passar uma vida inteira sendo visto como alguém que precisa ser consertado, ao invés de simplesmente sermos visto como alguém diferente, com cotidianos diferentes, porém igual a todo mundo. Entretanto, como essa, ainda é uma das únicas maneiras para identificar esses casos, termos que usá-la neste artigo.

Ainda sobre a categorização, quando uma pessoa diferente recebe benefício do governo o carimbo que oferecido é de inválido. Ou seja, alguém que não é capaz de fazer nada, uma grande e violenta inverdade.

Essas pessoas nascem, vivem e morrem como se não existissem, ou como se suas vidas estivessem a parte da vida tida como comum. Por isso a elas é reservado um lugar de solidão, menosprezo ou pena, sendo que são seres humanos como qualquer um.

Um mundo sem chances para a sobrevivência – histórico

Quando se pensa em segunda guerra mundial, por exemplo, muito se fala sobre as mortes dos judeus, negros e homossexuais, mas é pouquíssimo refletida as mortes dos diferentes.

Na ocasião, Adolf Hitler mandou exterminas mais de 200 mil pessoas. Mas a história do genocídio de pessoas diferentes é muito mais antiga do que isso.

Na era primitiva, as pessoas diferentes eram tão invisibilidades que não há registros sobre suas vidas ou existências.

Já em Atenas, Grécia Antiga, os registros são de abandono total e absoluto. A regra para quando alguém nascesse diferente era ser colocado, ainda bebê, em um recipiente cheio de argila e ser deixado ali para morrer. Com o aval de Platão, era autorizado também atirar essas crianças do alto de montanhas.

Em Roma, os pais tinham autorização para matar por afogamento os filhos que nasciam com alguma deformidade física ou mental. Muitos optavam por colocar os bebês em cestos e deixar que o Rio Tibre levasse. Algumas delas que eram encontradas eram exploradas, virando atração de circo e divertimento para pessoas “normais”.

Durante a idade média, essas pessoa eram “pintadas” pela igreja como possuídas, por isso eram queimadas vivas juntamente com as mulheres vistas como bruxas. Inclusive, quem tinha um filho diferente, acreditava ter sido castigado por Deus e a sociedade coloca esses pais como pecadores. Eles também sofriam preconceito.

É importante destacar que no antigo Egito os anões eram tratados com dignidade.

As possibilidade para uma pessoa diferente sobreviver começou a valer mesmo no começo da Idade Moderna, com o advento dos ideais humanistas. Ainda assim demorou muito para que essas pessoas fossem mais compreendidas.

O Imperador Dom Pedro II fundou no Brasil o Imperial Instituto dos Meninos Cegos e Imperial Instituto de Surdo e Mudos (entre 1854 e 1857). Os locais abrigavam crianças abandonadas pelos pais ou responsáveis.

Pessoas com deficiência só passaram a integrar a sociedade a partir do século XX. Entretanto, essa inclusão está muito distante de ser concluída com sucesso. Muitos entraves, até os dias atuais, impossibilitam um viver inclusivo para essas pessoas. O principal deles, o preconceito, outro? A falta de informação.

Chegamos em 2022 e a luta contra o capacitismo é real e justa

A luta contra o capacitismo não deve ser isolada por e para as pessoas que vivenciam diariamente essas dificuldades sociais na pele. Mas todas as pessoas podem se engajar.

Muitas pessoas nascem diferentes, muitas se tornam diferentes e outras tantas podem gerar um filho diferente. Por estes e tantos outros motivos, essa é uma pauta que envolve a todos, sem exceção.

“Quem decide o que será curado e o que será celebrado na nossa sociedade? Quem decide o que é perfeito e o que é normal? E o que é errado? O que é normal e o que não será aceito? Que regra é essa que nos rege? E quem inventou a regra?”, Lau Patron.

É importante que a inclusão social seja refletida durante o ano inteiro e não somente durante o setembro verde.

Talvez você esteja se perguntando: “Afinal, o que é capacitismo?”. O capacitismo ocorre quando alguém é discriminado por ser portador de alguma deficiência. Esse preconceito se manifesta de várias formas, a principal delas é quando uma pessoa considera a outra incapaz de realizar diversas ou todas as coisas, simplesmente por ter nascido com uma condição física diferente da que ela acredita ser a correta.

Muitas vezes as pessoas praticam capacitismo sem saberem, pois, conforme relatamos aqui, a falta de informação é uma das principais causas para que essas atitudes seja corriqueiras na sociedade brasileira.

Outra causa importante de se pensar é o fato de sermos criados para sentir medo de tudo o que é aparentemente diferente, resultando então em discriminação a tudo o que está fora do padrão. É preciso se descontruir para construir um mundo melhor.

Listamos algumas situações para identificar quando alguém está sendo vítima de capacitismo. Confira e aprenda!

  • Quando as casas de show, teatros, cinemas, ou qualquer outro ambiente não se preocupa em oferecer meios acessíveis para todos;
  • É capacitismo quando uma pessoa fica irritada na fila de um banco, supermercado ou ônibus, pois uma pessoa com deficiência está atrasando o dia dela, sem se perguntar se esta pessoa também não está atrasada, pois não se cogita que ela também tem uma vida para se atrasar. E o despreparo dos estabelecimentos para essas questões;
  • Quando uma pessoa só fala com a pessoa que está acompanhando a pessoa com deficiência, como se ela não fosse capaz de compreender nem os assuntos relacionados sobre ela própria;
  • É também capacitismo quando uma escola não tem preparo para receber todos os alunos;
  • Quando se acredita que a presença de um aluno ou profissional atípico prejudique a turma ou equipe de trabalho;
  • Quando não existe brinquedos para todos os tipos de criança;
  • Quando uma empresa contata um portador de deficiência para o preenchimento de cota;
  • Quando nos sentimos gratos ao olhar para uma pessoa com deficiência e sentimos alívio por sermos “normais”;
  • É capacitismo quando usamos adjetivos como “retardado”, “surdo”, ‘cego”, para falar com pessoas típicas, na intenção de ofender ou em tom de brincadeira;
  • Quando o tom de voz é infantilizado para falar com um jovem ou adulto com deficiência ou começa a fazer carinho nessa pessoa sem pedir autorização;
  • É capacitismo quando você é questionado pela família sobre ter um relacionamento duradouro com uma pessoa com deficiência;
  • Quando dizemos que só queremos que nossos filhos nasçam perfeitos, excluindo a existência de um bilhão de pessoas com deficiência no mundo;
  • Quando se pensa que PDF só devem sair de casa para ir ao médico;
  • Quando ao invés de chamar a pessoa pelo nome, chama pela deficiência “a cadeirante”, “o cego”. Isso tira a pessoalidade do ser humano;
  • Quando você é questionado sobre manter uma relação séria com alguém tida como normal, porque “coitada da pessoa que vai carregar este fardo”;
  • Quando se entende por arrogante a pessoa com deficiência que não aceita a sua ajuda (muitas vezes ela nem está precisando);
  • Quando força a pessoa com deficiencia focar a sua fé na sua cura e não no seu bem estar;
  • Quando se sente pena e não respeito;
  • Quando as pessoas pensam que vagas reservadas para pessoas com deficiência é um privilégio;
  • Quando se acredita que uma pessoa não é deficiente por não corresponder ao que se entende como deficiência. Nem toda deficiência é visível e ela não precisa ser provada para existir;
  • Quando uma religião prega que ter uma deficiência é um castigo divino;
  • Quando uma pessoa com deficiência é vista como menos ou mais e não como igual;
  • Se surpreender ao ver uma pessoa com deficiência fazendo coisas normais e dizer “guerreiro” ou “guerreira” é uma forma de capacitismo;
  • Fazer da pessoa com deficiência um “herói da superação”. A sociedade que impõe uma série de obstáculos é a mesma que aplaude quando uma pessoa com deficiência consegue superá-lo, como se fosse fácil e ficando em uma posição confortável, em que nada precisa mudar, pois “se fulano conseguiu, você também pode”. É o famoso romantismo da exclusão;
  • Quando não existe roupa e calçado para o PCD é capacitismo;
  • Quando você vai ajudar uma pessoa com deficiência sem perguntar se ela precisa de ajuda.

Existe muitas outras maneiras de cometer capacitismo contra alguém. Para descobrir, dê mais voz para estas pessoas e conheça mais sobre o seu universo.

Última atualização em 03/04/2022 às 13:23