E a maldição continua. Pela quarta vez seguida o Cruzeiro é eliminado da Libertadores por um time argentino. A equipe celeste empatou em casa com o River Plate, por 0 a 0, e, nos pênaltis, foi eliminada após erros de Henrique e David. O River acertou todas as suas cobranças.
Com a eliminação, o Cruzeiro passa a disputar duas competições: o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil. Maior sonho da torcida, o tri da Copa Libertadores foi adiado mais uma vez. Após a eliminação, o técnico Mano Menezes foi duramente criticado. Apesar de o time celeste fazer boa partida no Mineirão, a falta de objetividade e movimentação ofensiva rendeu duras críticas.
Em 180 minutos de confronto o time celeste teve apenas uma chance clara de gol. Isso porque o time foi considerado mais ofensivo, principalmente no segundo jogo. Após se dar bem em diversas oportunidades, seja em disputas de pênalti, ou em classificações com gol qualificado, uma hora a derrota iria chegar. E veio. É o preço a se pagar por quem sempre escolhe andar a beira do precipício.
O jogo
A partida foi bem jogada, apesar de poucas chances claras de gols se apresentarem para as duas equipes. O River Plate até manteve certa intensidade nos inícios de cada tempo, mas logo, com o passar dos minutos, se retraia. Fazendo uma má partida, os argentinos mantinham a posse de bola, mas não conseguiam se infiltrar na defesa celeste. E quando recuperava a bola, o Cruzeiro encontrava espaços para contra-atacar. Mas poucas opções de ataque e erros nas tomadas de decisão e no último passe faziam o time mineiro desperdiçar as chances. Na segunda metade da etapa final, os dois times já pareciam esperar os pênaltis e nada de muito animador foi visto.
Maldição
Ontem escrevi que o Cruzeiro precisava quebrar a maldição argentina que rondava o time. Desde 1976, quando venceu a final da Libertadores em cima do River Plate, o Cruzeiro. De lá para cá foram sete eliminações para times da Argentina. Para o Boca Juniors foram três, em 1977, 2008 e 2018. O River, por sua vez, eliminou duas, em 2015 e em 2019. Estudiantes e San Lorenzo foram os responsáveis pelas outras, em 2009 e 2014.
E algo que vem sendo recorrente nessas eliminações são lances de gols perdidos absurdos, que parecem já entregar o que vai acontecer ao fim da partida. Em 2009, quando o placar marcava 2 a 1 para o Estudiantes, na fatídica final, Thiago Ribeiro mandou um chute na trave. Em 2014, com 1 a 0 para o San Lorenzo, no Mineirão, após uma finalização de Marcelo Moreno, a bola bateu numa trave, andou caprichosamente por cima da linha e bateu na outra trave, antes de ser mandada para escanteio pela zaga.
Em 2015, contra o River, Willian Bigode errou uma finalização cara a cara, ainda no 0 a 0, também em casa. Já em 2018 foram dois lances. Na ida, o volante Barrios, do Boca, salvou uma finalização de Rafinha em cima da linha. Na volta, Raniel tentou dominar uma bola com o gol aberto a sua frente e acabou perdendo a chance.
E agora, em 2019, foi a vez de Pedro Rocha. Após cruzamento de Thiago Neves, o jogador ficou com a sobra, na pequena área, e fuzilou o gol de Armani. A bola bateu no goleiro adversário, subiu, acertou o travessão e sobrou para Romero, que chutou para fora, com o goleiro batido. Lances emblemáticos que marcam as eliminações celestes.
Pênaltis
Nas cobranças de pênalti, o River Plate foi perfeito. Acertou os quatro, sem dar chances a Fábio. Já o Cruzeiro pecou. Henrique, após uma longa paralisação para retirada de um cameraman do campo, que pode ter desconcentrado o jogador, bateu mal e Armani pegou. Em seguida, Fred converteu. David, que entrou basicamente para bater pênalti, foi displicente e bateu mal. Robinho acertou o dele, mas aí já não adiantava. 4 a 2 para os argentinos.
Manobol
Muito criticado no ano, o Manobol (apelido dado para o estilo de jogo defensivo instituído por Mano Menezes) não funcionou. Apesar de ser mais ofensivo que o comum, o Cruzeiro teve apenas uma chance de real perigo no jogo, o que é assustador. Um time qualificado, que joga em casa, com estádio lotado e precisa de um golzinho não pode criar tão pouco. É claro que não se espera que o time vá desembestado ao ataque, mas um lance perigoso em 180 minutos é pouco.
O Cruzeiro ataca com poucos jogadores e desperdiça inúmeras chances por isso. É frequente ver nos movimentos ofensivos celestes dois pontas isolados e alguém chegando no meio. Se atrás pouco sofre, na frente é sofrível. E jogar numa linha tão tênue uma hora dá errado. Seja por uma falta, um chute de fora da área, ou um lance de sorte do adversário. Nas penalidades a ideia é a mesma. Levar jogos para os pênaltis, mesmo com um goleiro qualificado e bons batedores não é garantia. Não chega a ser a loteria que falam, mas muitos fatores podem influenciar.
Ciclo
Nos últimos mata-matas, dificilmente o Cruzeiro passa com tranquilidade. E poderia passar se quisesse ou tentasse. Ou será que o fraco Fluminense, cheio de renegados e jogadores sub-18, realmente é páreo para o time celeste em casa? O clube mineiro pode entregar muito mais e com muito mais tranquilidade. O 1 a 1 com o Flu na ida das oitavas da Copa do Brasil prova isso. Um chute a gol em 90 minutos, contra um time absolutamente inferior. O ciclo de Mano Menezes parece ter acabado.
O time se tornou previsível e nada criativo. Os adversários aprenderam a enfrentar o Cruzeiro. Para o ano que vem passa a ser necessária uma reformulação geral. Diretoria, treinador e alguns atletas. É hora de se reinventar.
Sequência do Cruzeiro
Enquanto isso já são uma vitória em 17 jogos, num clássico, que é um jogo à parte. E o ótimo Internacional vem aí na Copa do Brasil. E a zona de rebaixamento já assombra, pelo Brasileiro. Se pelo lado óbvio, a eliminação foi ruim, por outro ela pode ser positiva.
O time celeste poderá focar no nacional e espantar o Z4, sem precisar poupar em todos os jogos. Além de também poder se concentrar melhor na Copa do Brasil, onde já está na semifinal e pode faturar uma bolada com uma classificação e um eventual título. Com os problemas financeiros que apresenta, essa cenário seria muito benéfico.
Próximo jogo
Agora vejamos como o time vai se comportar após a eliminação. No domingo (4) tem clássico contra o Atlético-MG, pelo Brasileirão, às 19h, no Independência. Uma vitória é uma boa injeção de ânimo para o jogo de ida contra o Internacional, na quarta-feira (7), pela Copa do Brasil. Seis jogos sem fazer gols, recorde negativo na história do clube, e uma vitória em 17 jogos. O Cruzeiro precisa reagir.