Vai ano, vem ano, mudam os governos, mas o problema segue o mesmo: a falta de água no município de Ouro Preto. Eis aí um problema histórico, possivelmente tão antigo quanto a história da cidade patrimônio mundial.
Em 2019, após muita polêmica, foi aprovado o projeto de lei que versava acerca da concessão da captação e distribuição hídrica para uma empresa privada, deixando o SEMAE, autarquia responsável até então por essa ação, de existir.
Agora, com menos de 2 meses sem o poder público ser o responsável pelas águas ouro-pretanas, observamos o mesmo problema de sempre: a falta desse bem natural ímpar nas residências dos mais diferentes bairros e distritos.
Nessas horas que nos perguntamos: onde estão os responsáveis pelas privatizações e concessões, que tanto defendem a iniciativa privada em detrimento do público? A incompetência que tanto acusam o funcionalismo estatal mostra-se tão ou mais presente onde quem manda é o capital financeiro e não o interesse do povo!
É pura demagogia argumentar que nossos bens nacionais, estaduais ou municipais dão prejuízo, afinal de contas, se assim o fosse, não teríamos empresas interessadas em assumir o serviço não é mesmo? A função de um empreendimento é buscar o lucro, apenas e tão somente isso, se sua função final não for essa, ela deixa de ser um empreendimento, passando a ser, por exemplo, uma organização não governamental (ONG).
Mas por que isso acontece com tanta frequência? É bem simples, afinal de contas muita gente se dá bem com a transferência do nosso patrimônio para as mãos de alguns poucos empresários, basta ver, na maior parte das vezes, quem são os parceiros e patrocinadores das mais variadas campanhas eleitorais, é a velha lógica do toma lá, dá cá.
E como fazem isso? É bem simples: sucateiam o serviço público, fazendo com que a população passe a achar que o que é privado que é bom, quando na verdade isso é uma grande enganação, basta comparar as universidades federais e privadas, os próprios números do Ministério da Educação falam por si só.
Aos poucos, de tanto sucatear o que é nosso, muitos desavisados acabam por comprar, por humildade em sua maioria, esse discurso irresponsável, apoiando a entrega de nosso capital a preço de banana para empreendedores, muitas das vezes, mais incompetentes que os servidores de carreira e preocupados apenas com o próprio bolso.
Voltando ao nosso tema, é exatamente isso que observamos acontecer em Ouro Preto: uma empresa que não é daqui da região cai de paraquedas, assume a responsabilidade de algo fundamental para a vida das famílias ouro-pretanas e todos saem perdendo para que poucos passem a se dar bem.
Ah, e ainda falta um detalhe: outra consequência de a iniciativa privada gerir os nossos recursos é o aumento dos valores que a população passa a pagar pelo seu uso, as famosas contas e boletos mais caros, logo chega a vez de cada um de nós.
Defender nossa água é defender nosso patrimônio, concessão na mão de aventureiros incompetentes, não é a solução.
Até a próxima.
* Pedro Luiz Teixeira de Camargo (Peixe) é Biólogo e Professor, Dr. em Ciências Naturais e Docente do IFMG.