Imagine um absorvente ecológico, produzido a partir de algodão orgânico, bioplástico biodegradável e celulose, e, ainda por cima, distribuído gratuitamente para mulheres. Se a ideia parece distante da realidade, o protótipo sustentável do produto de higiene íntima está a um passo de se efetivar para as estudantes do IFMG – Campus Ouro Preto da equipe “Por Elas”, orientadas pela professora Érica Aniceto.
Com o projeto “Dignidade para elas”, as estudantes Alice de Magalhães Pedroza, Cecília Giacomin Costa e Vitória Cristina do Amarante Campos Silva, do curso técnico integrado de Edificações, e Camilla dos Santos Ferreira, de Mineração, esperam contribuir para minimizar a pobreza menstrual e empoderar as mulheres residentes de comunidades vulneráveis na região de Ouro Preto.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o acesso à higiene menstrual é tido como um direito e deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. No Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possui um absorvente durante seu período menstrual. Como consequência de mobilizações de grupos, movimentos ativistas e instituições, o tema começou a ganhar visibilidade nos debates de políticas públicas.
A proposta inovadora das ouro-pretanas foi, recentemente, reconhecida ao ser uma das vinte selecionadas nacionalmente para a edição de 2022 do programa Power4Girls, ação promovida pela Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, em parceria com o Instituto Glória. Com o objetivo de impactar positivamente jovens que buscam uma oportunidade, o Power4Girls, cujo tema este ano aborda o “Meio Ambiente e Sustentabilidade”, visa empoderar meninas por meio de estratégias voltadas para o empreendedorismo, inovação, criatividade e liderança – importantes competências para um mundo cada vez mais globalizado e desafiador.
A recepção calorosa da notícia pelo grupo misturou-se à felicidade pela “oportunidade perfeita para falar e ajudar a solucionar algo que há muito tempo nos doía”, conta a orientadora do projeto. “O Power4Girls é um programa de grande importância, pois é uma oportunidade ímpar de adolescentes matriculadas na rede federal de ensino participarem de um projeto de grande relevância social, adentrarem no mundo da Ciência e aprenderem, aprenderem muito e debaterem sobre diversas questões que permeiam o mundo em que vivemos, por isso fiquei muito feliz quando as meninas me convidaram para orientá-las no projeto e, mais ainda, quando soube que ele foi selecionado”, acrescenta Érica.
Cecília Giacomin, uma das integrantes da equipe, compreendeu bem com as colegas o intuito do programa e, apesar das limitações impostas pela pandemia, buscaram pontos em comum para desempacotar soluções pertinentes para algum problema em voga. “Mesmo em ensino remoto, conseguimos estreitar laços, e acabamos nos conhecendo. Somos amigas que se interessam por coisas parecidas, e com uma empolgação mútua para projetos e inovação. Assim que tivemos nosso primeiro contato com o Power4Girls, foi possível entender a mensagem, eles queriam passar algo, não estavam em busca apenas de ideias, mas de inovações e pessoas que as carregam. Sabíamos que o melhor seria desenvolvido em nosso conjunto, sabíamos que juntas conseguíamos pensar em algo.”
“Por que um item básico e necessário é acessível para apenas uma parte da população? Por que não conseguimos falar sobre isso, por que ainda é um tabu? Por que um absorvente precisa fazer mal ao corpo ou ao meio ambiente? Foi isso que nós nos perguntamos e é isso que queremos resolver”, relata a estudante sobre os questionamentos mais inquietantes e que ajudaram na concepção da proposta.
Inicialmente, as pesquisadoras se propunham a substituir os absorventes de plástico por ideais mais sustentáveis, como coletores menstruais ou absorventes de pano. No entanto, durante os estudos, as informações colhidas sobre a situação econômica, ecológica e sanitária em que se encontravam as mulheres-alvo da ação, as fizeram enxergar muros quase intransponíveis para o manejo da higiene menstrual. Daí, o projeto ganhou contornos até chegar ao absorvente produzido com matérias-primas naturais.
Próximos passos
Até setembro, data em que levarão, para Brasília, os resultados da pesquisa, os meses serão de muito trabalho. Para que essa dedicação gere os frutos esperados, a rede de suporte educacional já se mostra presente e bastante necessária para a viabilidade das pretensões futuras do projeto. “O Reginato Fernandes, diretor-geral do campus Ouro Preto, já se disponibilizou em auxiliar-nos no que for preciso. Esse apoio é muito importante e é um grande incentivo para seguirmos adiante e, quem sabe, expandirmos o projeto em nosso campus e em nossa cidade”, espera Érica.
Diante ao quadro brasileiro de investimentos reduzidos em ciência e educação, participar do programa estadunidense, segundo a coordenadora, é uma forma de elevar o debate e a pesquisa a patamares de importância no cotidiano social.
“Poder fazer parte de um projeto como o Power4girls vai nos favorecer muito, pois, além de termos um contato com o mundo científico, vamos também ajudar muitas mulheres com o Por Elas. Já tivemos uma grande experiência até aqui, e só temos coisas boas a aprender daqui pra frente. Esperamos incentivar e mostrar a outras meninas que todas somos capazes de empreender e de ajudar na busca por um mundo melhor”, destaca.
Fonte: IFMG Ouro Preto