Criado em 2017, o projeto Relicário vem acompanhando Menestrel ao longo dos últimos anos. Seja através de álbuns ou singles, essa palavra nunca saiu das músicas do rapper, que hoje tem 21 anos. Aos 17, ele lançou seu primeiro disco que, no último mês de agosto, ganhou uma continuação. Relicário, Vol. 2 chegou às plataformas digitais no dia 28/08 trazendo nove faixas e participações de Rashid, Menos é Mais, Margaridas, Kyan, Di Propósito, Cynthia Luz e Chris MC.
Trigésimo convidado da Rima em Prosa, Menestrel conversou conosco nesta semana e falou sobre este novo trabalho, seu processo de amadurecimento, sua participação na Poesia Acústica e sua nova fase como intérprete. Confira:
Relicário, Vol. 2 e amadurecimento
MM: Você acaba de lançar o segundo volume do disco Relicário. Este projeto e essa palavra tem te acompanhado nos últimos anos e, na minha visão, simbolizam muito do que são suas músicas. Hoje, nessa atual fase que você vive, como o Relicário se encaixa em sua vida?
ME: Hoje em dia, Relicário se encaixa na minha vida como história, tá ligado? É o que resume o porquê que eu decidi cantar solo, o porquê que eu decidi seguir a minha vida como músico, como compositor… Literalmente explica toda a minha história. Todos os meus altos e baixos, todas as minhas missões como pessoa, como músico, como profissional, como empresário e tudo mais.
MM: Este segundo volume do disco é um “fim” para essa palavra na sua carreira ou ainda veremos mais Relicários no futuro?
ME: Não, é literalmente o final mesmo. Não vai ter mais Relicário. Com esse disco a gente encerrou o ciclo Relicário com chave de ouro.
MM: Relicário, Vol. 2 traz um grande time de participações, entre elas a do veterano Rashid. Um tempo atrás, vi você comentando o quanto se sentia feliz com esse feat. Para você, como é gravar com esse ídolos e pessoas que representam tanto pro rap e pra música?
ME: É muito interessante. O fato do Rashid, por exemplo, é um muito, muito legal. Eu sempre fui muito fã da arte e do porquê dele fazer a parada. E não só dele, como de várias outras pessoas que eu já pude gravar. E isso é pra mim é muito significativo, porque quando eu comecei a cantar, esse era o meu maior objetivo: poder ser respeitado e trabalhar com os meus ídolos. Eu não visava muito dinheiro, sucesso ou fama, eu visava muito mais realização pessoal. Então eu consegui fechar esse ciclo trazendo grandes nomes que eu já queria trabalhar junto, como foi o Menos é Mais e o Rashid.
MM: Você é, ainda hoje, um rapper bem jovem. Na sua idade, 21 anos, muitas pessoas ainda moram com os pais ou até mesmo nunca saíram para viver algo maior. Você costuma conviver com outras pessoas que tem a sua idade e não são do meio da música? Como você se sente quando está com elas?
ME: Confesso que não. Não vivo com pessoas mais novas do que eu. São raros os casos que eu conheço. Recentemente eu tive a experiência de conviver um pouco, alguns dias, com o JayA Luuck, que é, pô, um cara que eu gosto muito, que eu admiro muito. Ele é só um ano ou dois mais novo do que eu, mas foi uma experiência muito maneira, porque eu comecei a perceber que a galera que tá chegando agora também tá vindo com uma cabeça maneira e tudo mais. Se preparando para esse novo momento de vida e do mundo, principalmente. Então, quando eu me relaciono com pessoas mais novas, geralmente eu me relaciono com pessoas mais novas dentro do meu trabalho.
MM: No seu primeiro disco, você tinha apenas 17 anos. Naquela época, como você se enxergava três anos no futuro?
ME: Eu não enxergava. Eu não conseguia ver tanto a frente assim, porque pra mim era muito mais fazer por amor, do que propriamente um trabalho. Eu acho que eu sempre quis ser rapper, mas eu nunca imaginei que isso aconteceria de fato e que isso realmente se tornaria o meu trabalho. Então eu não tinha muito essa visão de três, quatro anos a frente. Eu acho que uma coisa que eu almejava mesmo, era de fato conseguir sair do país com a minha música, e isso foi uma coisa que eu consegui realizar em 2019.
MM: Dentro do seu trabalho, em quais pontos você acha que mais amadureceu do primeiro volume de Relicário para o segundo? Você acha que esse amadurecimento se deve por conta da idade apenas ou por outros motivos?
ME: Ah, todos os pontos. Todos os pontos. Relicário, Vol. 1 é um trabalho muito visceral, e o volume dois não perdeu esse estilo de visceralidade, mas você vê que a música é mais madura, a colocação das palavras é mais madura, a vendabilidade da música é mais madura… Tudo é diferente, por esses motivos. Tanto pelo amadurecimento mesmo de vida, por ter ficado mais velho, quanto por ter vivido a música de fato. Porque quando eu construí o Relicário um eu era muito jovem, eu não tinha experiência de nada, e depois esse disco me proporcionou viver tudo que eu vivi nos últimos três anos. Tudo que eu aprendi sobre música, business e tudo mais foi aplicado nesse novo disco.
MM: Entre os dois volumes de Relicário, além dos diversos singles, você lançou um EP chamado Pêndulo. Bem sentimental, esse trabalho te trouxe “de volta” para o boombap. Naquele momento, qual foi o impacto que Pêndulo teve na sua carreira? Com que olhos você o enxerga atualmente?
ME: O Pêndulo foi um trabalho que era necessário pro momento. A galera queria muito um renascimento do ciclo boombap no meu trabalho, e eu trouxe isso pra ela. Eu também precisava de um pouco com mais de contato com meu eu. O Pêndulo foi um trabalho que eu desenvolvi muito mais pra mim do que pras pessoas. Era uma temporada que eu tava meio perdido na música, e eu quis realmente fazer um trabalho que me resignificasse e me desse um novo norte. Então o Pêndulo talvez seja o trabalho que eu tenho mais carinho, até aqui, na minha carreira.
MM: Através de uma postagem no Instagram, você confirmou a produção de uma versão remix da faixa Tragos, Balas e Taças de Vinho com Sain. Além dele, quem mais estará nessa música? Ela será a única do disco a ganhar um remix?
ME: A Tragos, Balas e Taças de Vinho realmente vai ser com o Sain. Vai ser muito interessante poder trabalhar e lançar algo com ele, que era um cara que eu sempre admirei. A música vai ser composta por mim, pelas Margaridas e pelo Sain. E a gente também vai ter um outro remix do disco, que é o remix da Último Romântico da Rua 3, que vai ter a participação do Kamaitachi, que é um cara que eu também admiro muito, e que segue uma linhagem de música muito parecida com a minha, em alguns pontos. E a gente tá cogitando um terceiro remix, mas esse a gente não pode confirmar porque a gente não confirmou nomes e nem qual música vai ser, mas ainda vai existir um outro remix do disco.
Obs: o remix de Tragos, Balas e Taças de Vinho já está disponível no Spotify e nas principais plataformas de streaming. Confira:
MM: No seu Spotify, foi lançado um EP com versões acústicas de algumas músicas de Relicário, Vol. 2. Fale um pouco mais sobre esse trabalho.
ME: É, a gente disponibilizou a versão acústica do disco pra que a galera também pudesse escutar o material de outra forma. Eram umas versões que a gente já planejava fazer. Era um EP que também tava dentro do nosso cronograma, então foi muito interessante poder lançar esse trabalho e sentir o que a galera pensa das versões das acústicas das minhas músicas. É uma introdução à um novo mercado que eu vou estar trabalhando agora, junto com alguns projetos que eu vim desenvolvendo ao longo do segundo semestre de 2020. Então ele é uma iniciação a uma nova fase também, que vai estar chegando aí em 2021.
Projetos cancelados
MM: Ano passado, em uma entrevista que fiz com você no mês de junho, você disse que estava desenvolvendo um DVD com banda. Na época, você afirmou que era o projeto que estava mais se dedicando na sua vida. Contudo, esse trabalho nunca foi lançado. O que aconteceu com ele?
ME: Esse projeto foi um trabalho que demandou muito esforço da nossa equipe, e foi muito gratificante. Foi um dia muito interessante pra gente. Foi muito muito legal construir e tirar tudo do zero a estrutura do DVD. Mas, infelizmente não ficou da forma que eu queria. Eu tive alguns erros que passaram batidos dentro da filmagem e da captação de aúdio, que o DVD poderia ser lançado e mesmo assim ficaria legal, mas eu sou um cara muito perfeccionista com meu trabalho, então esses erros me incomodam muito. E se um trabalho me incomoda, eu não consigo lançá-lo.
MM: No meio da música, é comum que os artistas tenham discos e projetos cancelados ou que estão na gaveta. Isso já aconteceu com você outras vezes? Tem algum disco que você começou a desenvolver e nunca lançou?
ME: Sim, com certeza, já aconteceu de alguns projetos meus ficarem no tempo. Eu já escrevi cerca de oito a nove discos no decorrer da minha carreira. Dois deles, entre 2017 e 2020, e todos os outros antes de lançar o primeiro Relicário. E isso é normal do artista. Acontece. O processo de um disco, pelo menos na minha visão, é um processo que não pode ser muito demorado, porque o disco é a captação de um sentimento geral, e se você demora dois a três anos pra fazer e lançar esse trabalho, no meu caso, eu já sou outra pessoa. Eu já estou curtindo outras coisas e as músicas já não me agradam tanto. Música pra mim é um registro de momento, então eu não posso demorar muito pra lançar. E os outros discos que eu fiz e eu não cheguei a lançar, todos foram muito de preparação para conseguir realmente aprender a dominar o estilo musical que eu tava cantando.
Nova fase como intérprete
MM: Falando em projetos futuros, nos últimos dias você comentou nas suas redes sociais que está a procura de compositores, pois está com vontade de trabalhar como intérprete. Como surgiu o desejo de trabalhar nessa área?
ME: O fato de trabalhar como intérprete sempre me sempre me interessou muito. E também como ghost-writer, né? Como compositor para outras pessoas. Eu acho que a música é difundida e às vezes você precisa de uma outra versão de música ou de alguma história que você não conseguiu desenvolver, ou que não passou pela sua cabeça. Pra você também trazer pluralidade pro seu som, pra sua arte. O fato de eu querer interpretar algumas canções agora, me dá vazão para conseguir fazer mais músicas, ter mais conteúdos dentro do meu leque e poder lançar coisas diferentes, vivências diferentes, histórias diferentes. Coisas que às vezes eu não vou conseguir relatar. Então eu acho isso muito interessante. Eu acho que pelo fato também de a maioria dos clássicos da MPB e do pagode, que eu gosto bastante, serem significados por uma voz e terem sido escritos por outra. Eu sempre achei isso muito interessante.
MM: Esta será a sua primeira vez trabalhando com letras de outros artistas, certo? O que espera para essa nova fase?
ME: Ah, basicamente, não. Eu já cantei alguns refrãos que eu não eram meus, mas geralmente eram das pessoas que tavam na música. Eu já tive alguns contatos com a parte de intérprete, mas nunca somente interpretando, sempre na música tinha algum dedo meu na composição. Então agora eu tô bastante ansioso pra conseguir literalmente desenvolver uma parada do zero, focando só na parte vocal e na construção do clima do som, e não mais na letra.
MM: No seu Instagram, você disse que procura por letras mais voltadas para o pop. Esse é um gênero que podemos esperar por bastantes trabalhos do Menestrel nos próximos meses?
ME: Sim, eu quero trabalhar bastante com o pop, com o reggaeton e com o pagode nos próximos anos. Eu acho que por algum tempo essa vai ser minha nova frente de trabalho, porque eu não consigo ficar preso só dentro de um estilo musical e de uma estética. Eu quero conhecer, eu quero tatear, eu quero experimentar outras coisas. Até por isso, por não ter uma prática muito grande na composição das músicas pop, eu fui em busca de compositores que já trabalham nessa linha.
MM: Dentro do meio do rap, é pouco comum vermos artistas falando abertamente que estão interpretando letras de outros compositores. Nos bastidores, isso é visto como tabu ou as pessoas falam mais abertamente?
ME: Dentro dos bastidores do rap isso ainda é um grande tabu. Cada vez mais, inclusive. Por que o rap é um estilo naturalmente de expressão, né? Literalmente você expressar o que você acha sobre determinado assunto, sobre determinada causa, sobre determinada temática. Porém, cada vez mais eu me sinto menos rapper e mais músico. Talvez, hoje em dia eu me sinta quase que literalmente não rapper e, sim, um músico. Então, eu não lido com esse tabu, mas eu entendo quem lida e continuo admirando as pessoas da mesma forma. Mas eu não tenho nenhum tipo de problema com relação a isso. Eu acho que é super normal e eu acho que a música caminha cada vez mais pra isso, porque a gente abre mais espaço pra mais profissões dentro dela, né? Que é o caso dos compositores e intérpretes.
MM: Você já compôs ou recebeu propostas para compor para outras pessoas?
ME: Já recebi propostas algumas vezes, mas nada que chegasse a ser concreto. Só que hoje em dia eu componho algumas coisas pra outros estilos musicais e guardo pro momento certo de distribuir essas letras.
Poesia Acústica
MM: Recentemente, você gravou, junto de Froid, Cynthia Luz e JayA Luuck, uma nova edição da Poesia Acústica, lá em Jericoacoara-CE. Quais são suas expectativas para essa sua estreia no projeto?
ME: Cara, foi uma experiência muito maneira gravar essa versão da Poesia Acústica em Jericoacoara. As expectativas são legais. Eu espero que a galera goste. A música ficou incrível, super maneira. Eu mantenho meu pé no chão. Não é algo que eu espero que vá mudar a minha vida, mas sim que possa me abrir caminhos para trabalhar em outros estilos musicais, com outros artistas e conseguir o alcance de um público que eu sempre me interessei, que é o público que gosta desse estilo musical acústico, do voz e violão, da música muito cantada, da música romântica… Isso pra mim é bem interessante. É um nicho de público que eu gosto muito de trabalhar e que quero cada vez mais fidelizar. Trabalhar com Poesia Acústica já é uma satisfação pra mim, por conta de ser um projeto que eu vi nascer em cima do desenvolvimento do Paulo e do Malak (cabeças da Pineapple); e estar dentro dessa edição, com o vídeo gravado, o projeto consolidado e dentro de uma viagem de lazer que a gente tava, foi muito satisfatório pra mim. De antemão, eu quero sempre agradecer o espaço que os moleques me dão. E vamo ver o resultado, espero que a galera goste.
MM: Como é voltar para o canal do Pineapple após esse tempo fora? Podemos esperar mais participações do Menestrel em futuras produções da marca?
ME: Cara, é sempre maneiro trabalhar com a Pineapple, né? A gente tava aí há pouco mais de um ano sem trabalhar. Ano passado a gente lançou o clipe de Gasolina e Fogo, e a gente já tem alguns lançamentos acumulados ao decorrer do tempo. Grandes clássicos como Poetas no Topo e H.O.R.T.A. Trabalhar com a Pineapple é sempre um prazer pra mim, por estar lá dentro desde antes de existir Pineapple. Pineapple, no caso, PineappleStorm, né? A marca Pineapple já existe há um bom tempo. Mas é muito satisfatório pra mim, pois é sempre uma sensação de estar trabalhando dentro de casa. Com as pessoas que eu gosto, com as pessoas que eu admiro, com as pessoas que me conhecem mesmo, que sabem das minhas limitações, sabem do meu jeito, que gostam da minha presença. E isso é muito maneiro. Imagino que sim, que com certeza vão vir futuras produções com a Pineapple, porque a gente nunca vai estar deixando de trabalhar. Literalmente. Eu tô sempre lá, eu tô sempre, porra, opinando, tando junto do Malak nas produções que ele faz. Então, ocasionalmente, sempre acontece da gente tirar algo muito maneiro da cartola e botar na pista. Então com certeza dá pra esperar sim futuras aparições dentro do canal da PineappleStorm.
Escrita por João Victor Pena, Rima em Prosa é a coluna especializada em rap do Mais Minas. Nela, são publicadas notícias, matérias e entrevistas relacionadas à tudo de principal que tem ocorrido no rap nacional. Caso tenha gostado da entrevista com o Menestrel, recomendamos a leitura de nossas matérias com Raillow, Sain e DaLua.