Tratamento da Unifesp que eliminou HIV em brasileiro é destaque no The New York Times

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Virou uma matéria no The New York Times, na última terça-feira (7/7), o resultado positivo do supertratamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em indivíduos cronicamente infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). A notícia de que um homem brasileiro de 36 anos não mostra mais sinais da infecção após receber um coquetel de drogas pela universidade tomou o noticiário não só do NYTimes, mas de vários jornais pelo mundo.

Apesar dos ótimos resultados da exitosa pesquisa brasileira que pode chegar à cura do HIV, o jornal estadunidense mostra que alguns cientistas estrangeiros demonstram ceticismo quanto à essa possibilidade.

“A ausência de anticorpos contra o HIV é a coisa mais interessante sobre o caso”, disse o Dr. Steve Deeks, pesquisador de HIV da Universidade da Califórnia, em San Francisco, que não esteve envolvido no trabalho.

Ele também afirma que “todo mundo vai ficar cético”, disse ele. “Sou cético? Claro. Estou intrigado? Absolutamente”, diz o pesquisador, concluindo que “é muito cedo para dizer se o paciente brasileiro está realmente livre de vírus até laboratórios independentes confirmarem os resultados do teste”. 

“Essas são descobertas empolgantes, mas são muito preliminares”, disse Monica Gandhi, especialista em HIV da UCSF e uma das organizadoras da conferência.

A nicotinamida tem sido usada em muitos outros estudos sem esses resultados, observou ela. E nenhuma droga “funcionou até agora em termos de remissão a longo prazo”, disse ela. “Eu nem tenho certeza se isso funcionou. É um paciente, então acho que não podemos dizer que podemos obter remissão dessa maneira. ”

Contudo, o jornal ressaltou que os cientistas brasileiros se ofereceram para enviar amostras para testes confirmatórios a outros laboratórios, e que os pesquisadores devem repetir os testes negativos de anticorpos. O noticiário também publicou a afirmação do pesquisador brasileiro de que no Brasil as pessoas recebem medicamentos anti-retrovirais através do sistema público de saúde, e que a transação é registrada.

Sobre o tratamento

A pesquisa, feita em 30 voluntários com carga viral indetectável no plasma sanguíneo há mais de dois anos, é liderada pelo pesquisador e infectologista Ricardo Sobhie Diaz. Os voluntários foram divididos em seis grupos, recebendo – cada um deles – durante um ano, diferentes combinações de remédios, além do próprio “coquetel”, que é hoje o tratamento padrão para o HIV.

Ricardo Diaz  explica que o supertratamento foi capaz de diminuir o processo inflamatório desencadeado pelo HIV no organismo – Imagem: Alex Reipert/DCI-Unifesp

Para o grupo composto por seis voluntários que apresentou os melhores resultados para o tratamento inicial foi administrado mais dois antirretrovirais: o dolutegravir, a droga mais forte atualmente disponível no mercado; e o maraviroc, que força o vírus, antes escondido, a aparecer. 

Os voluntários também receberam duas outras substâncias que potencializaram o efeito desses dois medicamentos: a nicotinamida – uma das duas formas da vitamina B3 –, que mostrou ser capaz de impedir que o HIV se escondesse nas células; e a auranofina – um antirreumático, também conhecido como sal de ouro, que deixou de ser utilizado há muitos anos para tratar a artrite reumatoide e outras doenças reumatológicas. A auranofina revelou potencial para encontrar a célula infectada e levá-la, literalmente, ao suicídio.

“Um dos motivos pelos quais não conseguimos curar o HIV é que o vírus consegue desligar a célula (latência), e o remédio de que dispomos atualmente só age na hora em que o vírus se está multiplicando”, explica o infectologista. “No entanto, as células que o HIV é capaz de fazer adormecer sempre irão acordar. Quando tratamos uma pessoa e retiramos o remédio, dois meses depois, em média, o vírus volta porque uma das células acorda”. 

Diaz acrescenta que os testes anteriores in vitro e, agora, em humanos, realizados de forma inédita por sua equipe, confirmam que a nicotinamida é mais eficiente contra a latência quando comparada ao potencial de dois medicamentos administrados para esse fim e testados conjuntamente.

Apesar da descoberta da nicotinamida e da auranofina para a redução expressiva da quantidade de vírus presentes nas células humanas, ainda seria preciso algo estratégico que ajudasse a imunidade do paciente contra o vírus. Para isso, os pesquisadores desenvolveram uma vacina de células dendríticas (DCs), que conseguiu “ensinar” o organismo do paciente a encontrar as células infectadas e destruir uma a uma, eliminando completamente o vírus HIV.

Após passar por 48 semanas recebendo três medicamentos anti-retrovirais, o paciente retornou à terapia anti-retroviral padrão após o término do estudo. Ele parou de tomar todos os medicamentos anti-retrovirais em março de 2019. Seu sangue foi testado a cada três semanas desde então e não mostrou sinais da infecção, segundo os pesquisadores.

HIV no Brasil e o mundo

Dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) mostraram que 36,7 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV em 2016 e quase dois milhões seriam infectados no mesmo ano. No Brasil, o Ministério da Saúde contabilizou, até junho de 2016, quase 843 mil casos da doença, cuja maioria era constituída por homens (65,1%); o país é o que mais concentra novos casos de infecções (49%) na América Latina, segundo a Unaids. Um terço das novas infecções ocorre em jovens de 15 a 24 anos.

A síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) é uma doença do sistema imunológico, causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), que torna uma pessoa mais propensa às doenças oportunistas – e, até mesmo, ao câncer – do que outra cujo sistema imunológico esteja saudável. As principais vias de transmissão do HIV são as relações sexuais desprotegidas, as transfusões com sangue contaminado, o compartilhamento de seringas entre usuários de drogas injetáveis e a disseminação de mãe para filho, durante a gravidez, parto ou amamentação.

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