Por trás de cada hábito à mesa, até mesmo aqueles que praticamos sem perceber, existe um significado. Desde os tempos mais antigos, os poderosos exigiam regras de tratamento que os diferenciassem dos escravos e pobres, surgindo, para esse fim, o conceito de “etiqueta”.
Durante o reinado de Luís XIV, da França, houve uma tentativa de padronização dos costumes à mesa durante os grandes banquetes. Para tanto, distribuía-se etiquetas aos convidados que chegavam ao palácio, nas quais constavam instruções de como cada um deveria se portar e os lugares a serem ocupados à mesa, e assim, discernia-se o lugar de prestígio de cada convidado conforme seu título de nobreza e diferenciava-se as diferentes classes sociais.
Há também a teoria de que “étiquette”, em francês, vem de “ethos” (ética em grego), como uma proposta de respeito e reflexão sobre os pequenos atos cotidianos.
Os costumes mais comuns que se enquadram na etiqueta à mesa vão desde a organização dos talheres até os hábitos propriamente ditos.
Até mesmo o garfo, que tem utilização tão banal nas refeições de hoje, já foi um item de luxo que diferenciava os ricos dos pobres, que comiam com a mão. Nessa época, a diferenciação de classes sociais era feita de acordo com o número de dedos que pegavam na comida, visto que os mais nobres usavam apenas três dedos, enquanto a plebe usava a mão completa.
Atualmente, nos eventos mais requintados pode-se notar uma grande quantidade de talheres, os quais ficam enfileirados conforme a ordem de cada etapa da refeição (entrada, prato principal, etc), sendo que a organização padronizada consiste na disposição de garfos à esquerda e facas à direita, em decorrência de um antigo costume que tinha como objetivo forçar que todos fossem destros, já que, até o século 19, os canhotos não eram bem-vistos pela sociedade.
Outra regra de etiqueta bastante conhecida é a que proíbe o apoio dos cotovelos à mesa, costume esse que surgiu ainda nos tempos antigos, quando, por serem colocadas em cima de um tronco, as mesas não eram firmes. Assim, a comida provavelmente cairia no chão caso alguém tentasse colocar os cotovelos em cima da mesa. Outra justificativa é proveniente das festas da Idade Média, onde, devido a grande quantidade de convidados, não havia possibilidade de todos se sentarem confortavelmente, sendo assim, colocar os cotovelos sobre a mesa, ocupava mais espaço, o que causava o descontentamento dos demais convidados.
Mas, sem dúvidas, o ritual mais comum e que está presente até hoje nos mais diversos tipos de ocasiões é o de se fazer o brinde com bebidas. Hábito esse que inicialmente tinha como propósito ser o mais forte possível a fim de que pelo menos uma gota de um copo caísse sobre o outro, de modo a demonstrar que não havia veneno em nenhum dos copos. Outra teoria para essa tradição é a de que o ato de se elevar as taças era uma oferenda simbólica aos Deuses.
É inegável que existem diversos detalhes que passam despercebidos durante uma refeição. Alguns hábitos são automáticos, outros mera burocracia, o importante é que cada momento seja vivido com atenção plena e desfrutando do prazer a ele associado, tendo isso garantido, as demais regras são apenas facultativas.